sábado, 31 de outubro de 2009

entre escassas linhas #2

... era uma vez ninguém que procurava alguém. Por tanto mundo percorreu, não encontrou alguém. Ninguém, mais, vinha lá. Em vez disso, encontrou outro ninguém que, coincidência das coincidências, procurava outro alguém. Entre tantos ninguéns, certo era que se procurava alguém.
"Alguém está aí?"
O despertador tocou, a essência p e r d e u - s e !
Pitt

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Leituras & Remédios #6


"(...)
- Tudo isso são idiotices...O Amor? Pf...Mas que vem a ser o amor? Uma necessidade orgânica, nada mais. Para obrar, podemo-nos servir de um vaso de loiça; para amar precisamos de um recipiente de carne...O Dante, o Camões Zarolho...Bolas!...Patetinhas alambicados, imbecis versejadores...Tu, provavelmente, meu patarata, não foges à regra geral: vais para aí, ao lusco-fusco, dizer mil banalidades a qualquer burguesinha sensual e camafeu...Resistes, a pé firme, ao vento e à chuva, hein?...Pobre de espírito! Felizardo...Irás para o reino dos céus...Ah!Ah!
(...)"

página 12

"(...)
Que a loucura, no fim, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção:
isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos homens adoptou um sistema determinado de convenções:
É a gente de
juízo...
Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria...são doidos...
Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o género da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados:
Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu.
(...)"


página 37


"(...)
Se Raul se mostrava esquecido das suas manias, despreocupado e jovial, era precisamente porque, mais do que nunca, se deixara apossar por elas. Provam-no as suas notas diárias que nesta época abundam: bizarras, nebulosas, indecifráveis na maioria"

página 69


Mário de Sá-Carneiro,
Loucura
3ª edição da ulmeiro, 1999
págs:78


(a leitura como um dos melhores remédios. a loucura. da normalidade com reduzido desvio-padrão para a anormalidade. o que é aceite como regra que dita a sociedade. a subjectividade das interpretações. somos tudo menos normais. com elevado intervalo de confiança.)


Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Eu numa palavra só dizia que o Prof. Nuno Grande é.. é fixe"

Carissimos Leitores,

Apresento aqui um video-homenagem ao Dr. Nuno Grande, uma excelente pessoa e um excelente médico...

Neste video de 33min e 43 segundos, gostaria que tomassem especial atenção a partir dos 22 min e 20 segundos...


Ubirajara Piatã

entre escassas linhas #1

... era uma vez um rapaz que seguia o seu caminho. Deparou-se com uma ponte que consistia numa só corda. O seu único objectivo na vida era passar para o outro lado. Nunca antes tal experiência tinha vivido. Arriscou, hesitante e inseguro, atravessar pelo único percurso que atingia o seu projecto, numa altura suficiente para facultar um último suspiro a qualquer individuo. Caiu. Não fracturou perna. Não inflamou tecido. Não luxou articulação. Não deixou fugir a memória... Perdeu a personalidade. Tudo pelo que lutara escapou-se-lhe em míseros segundos. As suas convicções desvaneceram-se.
Deu um último suspiro,
e mais um último suspiro... e ficou ali, não morto, mas com um sentido de vida morto.



Pitt

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Manifesto de um Maldito #2 parte 2

continuação deste relato

Com os gestos habituais de uma diabética desde os 15 anos como confidenciou, fez tudo certinho. Resultado: 40 mg /dl.
Estava, portanto, hipoglicémica. Mais do que tentar perceber o que tinha, o importante era aumentar, quanto antes, os valores de glucose no sangue.
- Como é que não me lembrei de medir isto? Devem ter sido os nervos.
Pus-me a pensar enquanto dava açúcar empapado em algumas gotas de água à senhora, fornecido pela minha vizinha, passando depois para um pouco de sumo de laranja que ela também me forneceu. Se ela tinha vomitado, como contou depois, o almoço e o pequeno lanche da tarde, certamente que desde a hora do almoço (12h30) que não ingeria carbohidratos, ou melhor, estes não chegavam ao sangue pela digestão, pelo que esse precioso substrato energético estava em falta. Provavelmente as outras vias, como a gluconeogénese (impulsionada pelo glucagon) ou a glicogenólise não estavam a conseguir compensar esse défice e o corpo ainda não tinha engendrado mais nenhuma das outras vias que suprimissem, rapidamente, esse mesmo défice. Só me surgiam hipóteses. Porém, o necessário seria tornar os valores normais.
A senhora acabou por melhorar e após um tempo mediu novamente os valores. Estavam a subir, chegando mais próximo do normal. Entretanto, apareceu o seu marido para a ir buscar e ela foi à sua vida, mais animada e com os sintomas de tremura e tontura praticamente ínfimos. Agradeceu-me a ajuda, não antes de eu lhe recomendar que quando chegasse a casa comesse qualquer coisa para estabilizar e que medisse os valores mais uma vez, não fosse também exagerar na comida ingerida provocando uma posterior hiperglicemia. Se a dor de barriga persistisse ou o problema - agora desaparecido - que a fez vomitar, voltasse, seria melhor ir ao centro de saúde ou hospital. Contudo, a visível melhoria indicava que o problema tinha sido pontual. Assim se deu este nano-caso clínico, mas que vai para o catálogo de esperiências.
Analisando a situação constato que pouco mérito meu existiu para a recuperação da senhora. Mais que provavelmente viria o momento em que ela própria se lembraria de medir os valores de glucose no sangue e saberia pela certa como actuar, habituada por tantos anos de doença. Quanto muito, a minha acção teve alguma significância em não deixar agravar a situação. Isto é, não foi necessária uma resposta científica de todo o tamanho, essencial foi falar com a senhora e relembrá-la do seu estado prévio que poderia estar na origem do seu mal-estar. Depois convém confortar os pacientes e permitir que a díade se desenvolva.
Pequenas coisas, um médico vive por vezes de pequenas coisas. Coisas simples, nada estrondosas na actuação mas que sejam elementares e eficazes. Nestes momentos não sabemos se somos bons ou maus médicos, sabemos somente que temos de agir. Se nos calha um solução mais simples, tanto melhor para nós como para o paciente. Se nos é pedido um maior esforço, compete a nós que o façamos. Até se pode dar o caso de de não ter tido em conta todos os factores ou de o modo de conduta poder ter sido diferente. É normal a variação e poderiam surgir críticas à minha actuação. Felizmente que o paciente, o interessado, saiu a ganhar. Vivemos neste limbo de ciência e agilidade. E por lá continuaremos.
Voltei para casa com a sensação de vazio habitual em mim um pouco atenuada. E com a dita carta. Apaguei as luzes da sala e sentei-me no cadeirão de vime que está no centro, com os meus gatos enrolados nas pernas. Tentei calcular o meu peso no mundo. Pensei umas horas. Não consegui. Quando acordei de manhã no mesmo cadeirão só me vinha à cabeça que estava atrasado para o raio do trabalho.




Hermenegildo Espinoza

Sondagem - feedback

O xis ganha (50% dos votos) com maioria absoluta, como fundamento, ou desculpa, da prolongada ausência do Cluni. Ora, nada mais resta a dizer relativamente a esta ausência quase anual do Cluni, uma vez que os resultados falam por si. Mesmo falando por si, uma questão deve ser levantada acerca dos resultados: porque não escolheram os votantes a mesma hipótese para ausência do Cluni quando todos estiveram sujeitos ao mesmo Cluni ( leia-se manifestação quase ausente do mesmo)?

A resposta a esta pergunta pode constar numas pinceladas pós-impressionistas, nos pigmentos da tinta a óleo dispersos por pêlos da crina de cavalo num movimento de revolta quanto ao surgimento da máquina fotográfica sobre uma tela.




Efectivamente, da mesma forma que Van Gogh via as estrelas na noite com círculos brilhantes concêntricos, por estar sob o efeito da terbentina, os votantes viram Clunis distintos. Viram o Cluni, não à luz do que ele é, mas à luz do que são… Se estavam sob o efeito de terbentina, isso já não sei dizer. Quiçá!?


Pitt

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Manifesto de um Maldito #2 parte 1

Ou

As peripécias da Esperança Boa-Morte, da Maria do Carmo e do Espinoza.

Um médico, enfermeiro, técnico ou qualquer outro digno profissional da saúde tem de estar preparado para, face a uma situação imprevista ou anormal, poder dar o seu contributo quando tal é necessário. A experiência e as repetições de situações bem que ajudam o sistema nervoso a ganhar uma habituação que pode, a qualquer momento, despoletar um resposta racional a uma adversidade. O conhecimento teórico que adquirimos em enxurradas de matérias na universidade tem de se complementar com a personalidade de cada um. Será, porventura, perfeitamente normal que alguns de nós se adaptem mais facilmente às situações, quer seja por um maior bem-estar a lidar com as pessoas, quer pelo coerente e assimilado conhecimento científico. A um médico, entre outros, pede-se que, dentro das suas limitações, saiba conjugar esses dois factores: conhecimento científico-técnico com a predisposição variável da nossa personalidade para lidar com as pessoas e com os condicionantes do meio. De pouco vale cingirmo-nos apenas à perícia teórica ou apenas à perícia comportamental. A sua conjugação permitirá, aí sim, uma maximização de resposta.


Hoje, por volta das seis da tarde, cheguei a casa. Aguardava uma carta relativa a uns assuntos pessoais e como por vezes o carteiro, na minha ausência, deixa a correspondência com a minha vizinha de baixo, dirigi-me até à sua porta. A vizinha, de seu nome Esperança Boa-Morte, recebeu-me com o carinho habitual:
- Então, Hermenegildo, vens ver se o carteiro deixou alguma coisa?
- Nem mais, dona Esperança.
Mandou-me entrar. Enquanto foi buscar a carta que estava na cozinha, reparei que estava a empregada das limpezas da Dona Esperança - uma senhora na casa dos cinquenta talvez - sentada no sofá da sala, extremamente pálida e angustiada.
- O que tem a senhora? – sussurrei para a dona Esperança.
- Aqui a Maria do Carmo está mal-disposta, vomitou há pouco e diz que se sente muito mal, com tonturas e algum tremor – disse a dona Esperança em voz alta chegando-se ao sofá.
- Ai é? – respondi – E desde que vomitou não se sente um pouco melhor?
A empregada olhou-me, no meio da sua indisposição, com a expressão “se soubesses ao menos como eu estou, com esta angústia, queria ver se gostavas”.
- Sabe – contou a dona Esperança – aqui o meu vizinho Hermenegildo é médico.
A súbita mudança do olhar da senhora anunciou a alteração da anterior expressão para “vejam só, o raio do rapaz é médico. Ai, olhem para aquilo, com aquela barba toda por fazer e o cabelo despenteado, com cara de quem anda sempre mal com o mundo. Nem parece que é um doutor”. Escassos segundos depois estava a recíproca díade médico-paciente estabelecida. O status da minha profissão surgiu e a senhora estava agora cooperante, pronta a que eu a ajudasse, olhando com algum respeito, diria.
- Se calhar foi qualquer coisa que eu comi. – referiu – Caiu-me mal a comida e eu vomitei.
- Não tem nenhum problema de saúde, pois não? – perguntei mais por rotina do que propriamente para deslindar o que poderia ser. Não fazia qualquer ideia do que a afectava. Podia ser um simples indisposição ou má-digestão passageira sem qualquer papel sintomático. No fundo, podia ser tudo e nada.
- Sou diabética daquelas que precisam de insulina, mas ando controlada, medi de manhã e estavam bem os valores. O meu médico diz que de manhã não deve ser menor que 60 e que mais ou menos duas horas depois das refeições deve andar por volta dos 110, acho eu.
Estava bem informada, pensei. Os valores recomendados, que nem sempre são iguais para todas as entidades, não andam muito longe disso.
- E já mediu os níveis agora, dona Maria do Carmo?
- Ai, não, esqueci-me. Como estou tão mal-disposta com estas tonturas nem sequer me lembrei disso -referiu alarmada.
Foi então medir os valores.



continuo o relato amanhã...



Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Leituras & Remédios #5


"(...)
Uma velha sentada no café treme da cabeça, não a consegue segurar, por vezes faz mesmo o gesto (de a tentar agarrar), mas também já não tem forças nas mãos, e a vida é reles, é banalidade, é asco e sangue. Nos cafés, nas camas com os amantes, na cadeira à espera da morte do pai, na rua, desprevenido, morre-se em todo lado, em todo o espaço e em todo o tempo; já deve ter acontecido (às centenas) durante a missa, durante um funeral já milhares devem ter morrido, caíram no chão, pensa-se de imediato num desmaio: por quem choramos agora se há dois mortos e para onde vamos se há dois cortejos a avançar em direcções opostas?
(...)"


do texto A velha que treme da cabeça, no café, página 9.

"Uma vez senti algo semelhante. Tinha que pagar a um oculista. Levava o cheque já preenchido. Cheguei ao sítio e disseram-me: Morreu ontem, num desastre de carro. Tinha o cheque em nome dele, e agora estava morto. O primeiro pensamento foi: se eu tenho um cheque para lhe pagar, ele não pode estar morto. O segundo pensamento, passados uns segundos, foi: vou ficar com o dinheiro. O terceiro pensamento foi: como é que a tua cabeça foi capaz ter aquele 2º pensamento? O quarto foi: toda a gente pensa todas as hipóteses numa situação, mesmo as hipóteses nojentas.
Mas o senhor tinha um pai ainda vivo, e eu rasguei o cheque antigo e escrevi o nome do pai no cheque - era quase o mesmo, só mudava a primeira palavra. Estávamos os dois num restaurante de comidas rápidas, de pé. E o pai do meu oculista, que morrera num desastre de automóvel dois dias antes, estava vestido de preto e estava triste, falava pouco, e tinha os olhos baixos. Mas recebeu o cheque."

do texto Outro desastre, página 43.

"(..)
Entrei na casa. Um piano sem muitas teclas, algumas ainda fazem som, mas a voz de um animal ferido fica diferente.
- Este piano já não pode tocar.
Os animais (como os homens) quando estão próximos da morte ficam com a voz semelhante à dos pais. Assusta, mas é bom.
Podes pôr asas atrás das costas a fingir que és anjo. Mas serás enterrado à mesma.
(...)"


do texto O pescoço grande do cisne, página 89.


Gonçalo M. Tavares,
água, cão, cavalo, cabeça
edição da Editorial Caminho


(a leitura como um dos melhores remédios. Daqueles crus e sem a desnecessária epiderme camuflante. Muito mais poderia trancrever-se. O homem e o mundo, o homem e o mundo. E o que anda lá no meio. Para um bom entendedor.)


Hermenegildo Espinoza

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Errata

Por razões transcendentes à nossa maçonaria, um espectro virtual iletrado terá invadido o nosso pequeno lugar cibernético para esfaquear a língua-mãe que nos orienta. Assim, na sondagem acerca do silêncio de Cluni, onde diz "credênciais" deve ler-se "credenciais".
Posso adiantar que os Malditos estão a conduzir uma investigação para apurar a origem deste "virus" e deslindar as suas verdadeiras intenções. O suspeito número 1 é, para já, Maitê Proença, por razões óbvias.

Agradecido pela clemência demonstrada,

Bachiatari Sensei, ad nominus Médicos Malditos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

erro médico #1

"Os erros dos médicos a terra os cobre."

Este velho ditado popular desmascara o véu protector dos ossos do nosso ofício, afasta a terra que tapa e é cumplice do erro médico na sepultura da vítima (realmente, sou de extremos!).



Em suma, ditam os que se regem pela doutrina maldita:

Os erros dos médicos, afinal, a terra os descobre.


Pitt

domingo, 11 de outubro de 2009

O que um médico tem de ouvir...


Meus caros malditos, após muito tempo de reflexão, em que estive refugiado nos Himalaias, decidi voltar...

Esse tempo de reflexão mostrou-me uma outra vertente na minha vida... o Humor.

Apresento-vos então, as célebres frases que nós, medicos, um dia ouviremos...


"Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho."
"Não sou muito afluente de vir aos médicos."
"Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta."
"O dente arrecolhia pus e na altura em que arrecolhia às imidulas infeccionava-as."
"O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã."
"O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga pela via de trás."
"O meu pai morreu de tísica na laringe."
"O meu reumatismo é climático."
"O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura."
"Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal."
"Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída."
"Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico logo melhor."
"Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde acho-vos uns estapores."
"Quantos filhos teve? pergunta o médico. - Para a retrete foram quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três."
"Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha."
"Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns."
"Tenho a língua cheia de Áfricas."
"Tenho artroses remodeladas e de densidade forte."
"Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião" (Sermion)
"Tenho de ser operado ao stick . Já fui operado aos estículos."
"Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza."
"Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais."
"Tenho pedra na basílica."
"Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina."
"Tomei Sexovir" ( Isovir )
"Tomei uns comprimidos jaunes, assim amarelados."
"Tomo o Sigerom e o Chico Bem" (Stugeron e Gincoben )
"Tomo um vinho que não me assobe à cabeça."
"Tomo uma cábulas à noite."
"Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas."
"Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para cima...."
"Venho aqui mostrar a parreca."


Ubirajara Piatã

Imagiologia (quase) médica #7

Estava eu vagueando pelo extraordinário mundo da internet, quando encontrei estas preciosas instruções que penso que serão muito úteis aos futuros papás e mamãs, a fim de facilitar a sua interacção com o bebé.

Há muitos pais que têm problemas em alimentar as suas pequenas crias, por isso penso que a seguinte instrução será de grande valor e por isso seguida à risca para que o bebé seja alimentado correctamente.


Adegesto Pataca

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Manifesto de um Maldito #1

Soa a voz imperativa e as fileiras agitam-se, em polvorosa, desembainhando as espadas em saudação à figura suprema que os comanda. Ferozes, avassaladores, impiedosos inspiram o ar fétido em suor e presságios de morte para rapidamente expirarem a uma só voz até ao raiar dos olhos, à saliência das veias, à saliva que lhes espuma da boca. O grito tempestuoso de 400.000 pulsos de testosterona chega a fazer tremer chão, imagine-se aqueles que de outro lado aguardam a sua investida.

Estes últimos, porém sabem que não é o número que dizima o patriotismo, o orgulho, a dignidade, a honra, o dever, o paternalismo e o sangue porque lutam. Sabem-se sujeitos - porventura condenados - à morte nesta luta, mas nem isso os demove, nem isso é capaz de esfriar o calor que lhes irradia do peito, o sentido de missão, o ranger dos dentes. Uns sorriem à saudação do inimigo, outros lambem meticulosamente os lábios saboreando o cheiro da sua presa, outros porventura inspirarão fundo procurando no ar enregelado a calma que lhes permita cumprir o seu dever; Mas nem um - repito, nem um - abandona o companheiro que está ao seu lado, nenhum recua face à ameaça.
As mãos pintam a cara com a poeira, os pés cravam-se no solo sagrado que defendem, as linhas cerram-se em bíceps que lado a lado preparam lanças e escudos para a batalha, a respiração rápida e pesada é conjugada com olhares cegos de compromisso e lealdade absorvendo as barbáricas visões que contemplam.
O medo, nada disso tem lugar aqui.
É no entanto neste fôlego de vida e resistência que assenta aquilo que é ser um Maldito (parte, pelo menos, pois ser Maldito é ser mais completo que isso) e é partindo deste pressuposto que ser Maldito é ter uma visão autónoma, pessoal, verdadeira, lógica e incalável daquilo que à nossa volta parece colapsar ou cair sobre nós.

"In reading lives of great men, I found that the first victory they won, was over themselves... Self discipline with all of them, came first." - Presidente Harry S. Truman

Custos Vigilat

Bachiatari Sensei

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Imagiologia (quase) médica #6




Ao Homem quase tudo é permitido. Habitamos o mundo e dele somos grua: exponenciamos capacidades e disseminamos resoluções e modos de viver. Tão perfeitos somos que até o mal consciente conseguimos engendrar, não havendo tamanho fascínio por tal “habilidade”. Na escala do tempo, e sendo nós uma ínfima parte sua, poder-se-á interrogar se, analogamente, não estaremos nas fases iniciais de um Big Bang civilizacional. Indicam os nossos olhos – com as devidas dúvidas sobre a autenticidade dos nossos sentidos - que sim. Estamos naquilo que se compara a um embriogénese, lançando feixes expansivos para o nosso redor. Cegos criativos nascemos e vamos reduzindo as dioptrias à medida que avançamos na precisão dos relógios atómicos. Uns mais que outros indubitavelmente.
E se esta pedalada pelo monte helicoidal não bastasse, desenvolvemos a maior das técnicas para a sobrevivência, mais que os restantes seres do planeta. Ainda que com muito instinto, sorte, e favorecimento darwiniano quanto baste, encetámos a versatilidade do bypass. Somos os dogmáticos do “contornar por cima”, do “chico-espertismo”, do desenrasque, do desemerdar, do científico - em todos os sentidos – bypass. Contornar os obstáculos. Tenho um fraco suprimento de sangue no meu próprio coração? Ó meu amigo, faz-se um bypass, altera-se a rota de um vaso ou então implanta-se um tubo sintético que faça a ligação. Tenho um vazio de moedas no bolso? Ó amigo, vai trabalhar, não é? Tenho uma rapariga que não me ama? Ó amigo, parta para outra. Mãe, já gastei o dinheiro todo da mensalidade para as minhas coisas da universidade, o que faço? Ó filho, desemerda-te.
E mais que projectos subliminares de vida, um Deus ou vários, que a haver ou existirem, tenham um plano para nós, por muito que tudo seja afunilado, dúbio ou ribau bau bau pardais ao ninho, haveremos sempre de nos desemerdar. Fazendo alterações de rota a nós próprios, aos outros, ao ambiente envolvente, aos nossos ideais e princípios, daremos sempre a volta. Circum-navegando a adversidade. O pior que poderá acontecer será retornarmos ao mesmo ponto, ao nosso seio coronário existencial para logo sermos enviados para longe, até onde tenhamos retina. Temos trabéculas e músculos papilares para dar e vender. Auriculetas e septos regateando. Válvulas separando os lugares. Com as mãos em cone formando um infundíbulo projectado para os membros mais separados da varanda supra-orbitrária. Dentro da grande circulação do mundo temos a pequena circulação nossa.
Imagiologia (quase) médica. Imagiologia (quase) humana. Um coração em cada objecto.






na imagem, o bypass mais ternurento de sempre
: Las Dos Fridas (The Two Fridas), da autoria de Frida Kahlo, 1939.






Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Demandas científicas (ou não) #2

Caros malditos e simpatizantes deste maldito blogue, tenho para vos contar uma história merecedora da vossa atenção, história essa protagonizada por mim e por um camarada. Garanto-vos que foi uma grande aventura por mim vivida.
Passou-se por estes dias um ajuntamento de mentes brilhantes, no qual eu e o meu camarada estivemos presentes. Neste tipo de encontros nós, brilhantes cientistas, temos como diversão a troca de ideias e o relatar de investigações nas quais estamos envolvidos. Qualquer pessoa que por lá passasse ficava encharcada com a onda de sabedoria que por lá se sentia. Depois de muito confraternizar e até porque a idade já pesa, resolvemos ir embora. Como o local deste encontro ficava no meio de nenhures tivemos que ir no meu carrito, um antigo citroen 2cv da mesma cor que o sangue maldito que me corre pelas veias, que apesar de ser bastante antigo serve para as minhas deslocações pessoais. Lá fomos nós, ainda meios reticentes se devíamos ou não aproveitar mais um pouco a festa, ansiosos por chegar aos nossos confortáveis lares para podermos assentar estes velhos esqueletos.
Já muitíssimo longínquos do local de partida, em plena escuridão, tendo como únicos focos de luz os faróis amarelos da minha 2cv e o luar que penetrava por entre o arvoredo, de repente ouve-se um grande estrondo que ressoa por toda a brenha e o carro estagna no meio da rua. Que se passou? Esta pergunta ressoava nas nossas cabeças. Saímos do carro, eu levantei o capo da 2cv e deparei me com o pior, o radiador tinha estoirado. E agora? Que fazemos? Perguntavámos nós. Como não somos grandes admiradores daqueles aparelhos de comunicação que todos acham primorosos, os telemóveis, nenhum de nós tinha um, não tendo por isso nenhuma forma de comunicar com alguém para pedir auxílio. Ali estávamos nós na penumbra, sem saber o que fazer. Estacávamos à espera que passasse alguém ou diligenciávamos regressar ao nosso ponto de partida pelos nossos próprios calcantes e pedir lá apoio? Passado uns breves momentos de reflexão e discussão decidimos caminhar na direcção do local onde estavam os nossos compinchas de ofício.
Lá íamos nós pelo meio daqueles trilhos ardilosos e pavorosos na expectativa de encontrar ajuda. Eu, apesar da minha idade e experiencia, tenho pouco espírito de aventura e pode-se dizer que a minha bravura não é bem a de um feroz leão (talvez de um pequeno gatinho), por isso digamos que enquanto andava no meio daquela negrura sentia algum temor e qualquer diminuto ruído fazia o meu velho coração disparar. O meu camarada, que em tempos foi um experiente combatente, tendo batalhado com o intento de defender os valores da nossa pátria, aproveitava a situação para me amedrontar ainda mais.
Depois de muitos quilómetros percorridos, já quase a cair de moimento, aprontamos que estávamos perdidos, pois nunca mais descobríamos os nossos compinchas e não fazíamos a mínima ideia de onde nos encontrávamos. Eu estava atónito com a situação, pensando que ainda tinha muitos anos para viver e muitas descobertas para fazer, não queria ficar sumido no meio de nenhures, enquanto que o meu caro camarada se divertia bastante com a situação. Sem saber para onde ir arriscámos caminhar até encontrar a povoação mais próxima e lá pedir auxilio.
Continuámos nós então a nossa jornada nocturna, sem rumo, até que de repente começamos a ver ao fundo o que parecia ser uma pequena aldeia, ao aproximarmo-nos reparei que aquele lugar me era familiar. Após um pequeno esforço da minha memória reconheci aquela pequena vila, era a vila onde eu passei um deleitoso fim-de-semana neste saudoso verão que passou. Já estava mais contente, pois já não me sentia tão à nora. Fomos caminhando pela vila dentro na expectativa de encontrar alguma alma que permanece acordada aquela hora e nos pudesse auxiliar.
Estávamos nos deambulando pelo areal, já quase sem esperança e a pensar que iríamos permanecer naquele local até ao amanhecer, quando avistamos ao longe um humilde cafezito, milagrosamente ainda com as portas abertas. Apressadamente caminhamos na sua direcção, onde encontramos uma empregada, que indiferente à nossa situação, nada fez para nos tentar ajudar, e uns alegres rapazes, que apesar do péssimo gosto musical, esforçaram-se em encontrar o número de um carro de praça que nos pudesse levar até aos nossos lares. O objectivo era chegarmos a casa para repousar e na manha seguinte ligaria a um garagista para ir buscar o meu veículo. Ligámos ao taxista pelo telefone do café e esperámos ansiosamente pela sua chegada. À chegada à porta da minha humilde casa, os nossos corações dispararam ao ver a conta que o taxista nos apresentou, mas enfim, lá tivemos nós que pagar. Finalmente em casa, senti-me novamente seguro e fui ter o meu merecido descanso.

Adegesto Pataca

Gira-discos #10

Já lá vão 10 anos que partiu aquela digna mulher cujo fado era o fado.

Por entre cordas nyloniezadas se discriminava outra acústica genuína, uma corda dotada de um crescendo biológico e compassada pela autêntica alma portuguesa.






A ti, Amália, dedicamos alguns pixéis espácio-virtuo-temporalmente malditos, na voz de Sónia Tavares!



Pitt

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Realidade Percebida #7

Uma sinapse. É o que basta.
Canais electrolíticos abertos, estímulos eléctricos, quimicos e até electroquimicos, uma chuva de vesículas que caminham para a auto desintegração, a distribuição ordeira e perfeccionista de cargas positivas e negativas. Tudo antropomorfismos (que condenado eu não esteja por esse requinte de malvadez histológico) da metrópole biofisiológica - complexa e harmoniosa esta microscopia cientifica que de tão infinitamente imensa que é se compila em atafulhados de diferentes tecidos e retalhos polvilhados com meia dúzia de pêlos donde emerge esta bruta macroscopia da forma humana. Já o era antes, descobrimo-lo agora e não sabemos se perpetuará no futuro. Prossigamos.
Curiosa maneira, esta, de pôr a vida (bem, ou curiosa ou tresloucada, dependendo dos pontos de vista, mas nada que me dê comichões, seja de que maneira for).
Parece que o tempo de Deus e dos Santos e a teoria do sopro da vida, cada vez se distanciam mais, e há-de surgir por aí uma Miguel Ângelo que esculpa uma tal estátua de uma bomba sódio potássio com cornos (e voltamos ao grego e ao latim - quem percebeu, percebeu). Verdade é que começam a ter cada vez menos limites estas excurssões à nano-mini-micro complexidade que nos compõe. E a este ponto, acho pertinente tranquilizar os mais velhos, pois não é isto que a Biblia prevê como Holocausto.
Bom, na prática... A base da pizza é a mesma, o que muda são os ingredientes: todo o processo estimulo-resposta acontece da mesma maneira - a despolarização, a propagação do tsunami electroquímico, a interacção com as vias aferentes para mediarem a resposta formulada pelo sistema nervoso central e... STOP! É aqui que uns comem pepperoni e outros cheeseham. Todo este processo descrito é igual num empregado de mesa subitamente requisitado por um cliente ou num militar camuflado que ouve o estalar de galhos próximo da sua posição - o estímulo auditivo produzido pela vibração da membrana timpânica. Agora, se comermos cheeseham, olhamos para o caso do empregado que esboça um sorriso e prontamente atende o cliente o melhor que pode. Se preferirmos pepperoni estamos a olhar para o caso do militar altamente treinado e com o instinto de sobrevivência no auge cujo atendimento não será certamente simpático. Pausa para divagar. O treino elitista, confere a este operacional em missão o discernimento táctico e posicional perfeitos, bem como a preparação física e psicológica para acalmar a sua respiração, baixar a frequência cardíaca, controlar o seu instinto de sobrevivência de modo a localizar a sua presa com o mínimo de barulho e movimento possíveis, munindo-o simultaneamente da possibilidade de uma descarga súbita de adrenalina que conjugada com reflexos altamente eficientes suprimiam uma qualquer investida surpresa. Benevolente que sou, ofereço-vos duas opções/cenário (para decidirem liguem 808-80-90-10 e digam-nos a vossa resposta, sendo que o mais rápido receberá uma edição do livro "Viva Melhor!"): A primeira implica uma arma de fogo - um tiro certeiro na nuca, ao nivel de C3, de uma MP5 silenciada, a uma distância de cerca de 20 metros. Brutamontes, mas eficaz. A segunda, certamente mais elitista e um pouco mais sádica, implicaria agarrar o adversário desprevenido pelas costas e traçar-lhe jugulares interna, externa e anterior, carótidas interna e externa e cartilagem da traqueia com o aço dos Deuses. Mais sujo, muito mais doloroso e demorado, mas profissional. Fim de divagação. [que não se sintam perturbadas as mentes mais susceptíveis, nem assustadas pela divagação de um velho louco. Culpem os filmes, culpem o stress, culpem o tempo e sei lá... A Manuela Ferreira Leite].
Acho que sempre se reteve a comparação desejada, de um modo mais ou menos amistoso, mas igualmente elucidativo.
Cheira-me a Oreos e há leite a aquecer, e já que a gula faz parte dos antigos pecados mortais, porque não aproveitar?
Com uma última cascata sináptica me despedirei, para atalhar que os de vós que comem à base de menús polissaturados em gorduras e ainda têm que levar com um artolas servente que tem menos modos que um gnomo descalço, purulento e maldisposto deviam ser no minímo condecorados pelo controlo moral que têm. Até lá, certifiquem-se que não ateroscleram nem arteroscleram a vossa crossa aórtica. Por outras palavras, variem a vossa casa de pasto (sem nunca irem à tasca do Aires, atrevo-me a dizer, porém).
Este e mais conselhos porventura numa outra altura que não esta, em que o cheiro a Oreo que já mergulham em leite me entram pelas narinas sem passarem pelo tálamo e me viciam emoções.

Com a habitual estima,

O Sensei

domingo, 4 de outubro de 2009

Dos debates internos

Questionava-me há tempos um amigo extra-clube (mas nem por isso menor) sobre os métodos que nós aqui utilizamos para estarmos em contacto e fazer as nossas coisas ou aquilo que vocês devem supor que fazemos (aqueles três ou quatro que se riram nesta frase deveriam ser mandados para o inferno, não antes de terem enxurradas de químicas biológicas e aulas paupérrimas de levar ao desespero ao ponto de um sujeito auto-mutilar-se, dando com um Gray no hálux e um Snell no bregma ao mesmo tempo que tenta entender a fonética do nome próprio Leeuwenhoek). Pois bem, é muito fácil dar com o clube por aí, o problema com que se podem deparar é olhar e não ver. Por muito que sejamos olhados, raramente somos vistos. Além das reuniões e excursões pedestres na Cordoaria, nos Aliados, em São Bento, na Batalha, na Ribeira, no Marquês, na Trindade e outros, também recorremos às novas tecnologias de informação: a moches e extravaganzas e a mails com nomes sonantes e simbólicos. Para corroborar tal afirmação, transcrevo a parte final de uma correspondência electrónica trocada há dias entre nós. E não me chamem mentiroso.


"Pronto, é isto. Se o debate e o intercâmbio de ideias não forem o pico do espírito académico, a universidade e todos os seus apêndices (praxe incluída) não fazem qualquer sentido. A universidade deixa de ser a semente germinativa da novas gerações enquanto formação de cidadãos conscientes, activos e empreendedores, para passar a ser uma qualquer fábrica em série de produtos académicos diplomados embora acéfalos. A universidade utópica seria aquela que reunisse, em cada um dos alunos, as qualidades dos malditos - o que vamos tentando ser. Somos nós a resistência.

Abraço,

Espinoza"


Hermenegildo Espinoza

sábado, 3 de outubro de 2009

Imagiologia (quase) médica #5


Até ver é a nossa mãe mais antiga. Cumprimentem a senhora Ardipithecus ramidus, amistosamente conhecida por Ardi e que vagueou pelas terras da actual Etiópia, quiçá com uma ou outra inquietação no alto do seu um metro e vinte.




Hermenegildo Espinoza

(aviso aos leitores: para terem acesso aos restantes posts referentes a cada tópico, qualquer que ele seja, basta carregar nas etiquetas no final de cada post.)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Não contaminem a água!"


Caros compinchas,

Não sei se já é do vosso conhecimento, mas sou um grande discípulo da Teoria do Caos.

Se há algo que supere a Incerteza de Heisenberg, digo-o, com toda a convicção, é este paradigma. O caos comanda o mundo, meus amigos. Comanda o gole do rico chá do Sensei, cujo aroma activa di pronto o hipocampo e alude a tudo o que é memória de lutas e conquistas (deixo-vos na ambiguidade da palavra - especialmente a ti, Bachia...); comanda a gataria do Espinoza, cujo miar conjunto jamais se compara aos uivos quase autênticos do Ubirajara ou até mesmo ao canto "arrouxinalado" do Pataca.

Adiante. Como toda a regra tem excepção, venho, por intermédio deste post, louvar aquele ilustre peito lusitano que do acaso (ou ao acaso) virou o rumo da malária. Graças a este eco-homem (supõe-se) a taxa de mortalidade por malária em Angola viu-se reduzida este ano. Na verdade, neste preciso momento, ouço um som de baixa frequência oriundo de Angola (semelhante ao que se diz ouvir no México) que, traduzido de decibéis, fica qualquer coisa do género: "Já nao quero massacrar-vos com detalhes! Não contaminar a água já não é imperativo! Façamos a dança da Chuva". E com as miudezas molhadas, como resultado de uma exagerada actividade apócrina, por entre saias de folha de bananeira e soutiens de coco, louvam a grande descoberta: Mosquito da malária tem gene que o ajuda a resistir à doença e pode ser importante para os humanos .
Imagino o que vos vai pela cabeça... "então, e o que é que se passou com a fé daquele homem para quem a pureza da água era tudo?" A isso, responderia perguntando o maldito Pessoa (que se ainda fosse vivo, era com certeza cá um dos malditos,se bem que antagonista do Cluni, sublinhe-se): "Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem?"
*Bachiatari, não te admires se o aroma do teu chá nunca for o mesmo. Se isso acontecer, acredita, estás de perfeita saúde.
Pitt

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Il Diva

O que se pode ver de uma janela?
Neste momento um edificio cheio de tantas outras, mas centro-me numa em especial. Não pela cor, não pela forma, obviamente pelo conteúdo. Singela, modesta, pequenina donzela esta, com que me deparo desde há um par de dias. E uma mão cheia de vós, que ledes isto, ter-me-á já injuriado pelo pensamento de perversão pela certa, enquanto uns tantos outros me gabam a vida e a vista e possivelmente tentam adivinhar onde moro para fazerem malas e ocupar o T2 de baixo.
Antes de mais, que ninguém se meta neste buraco, que além de velho tem um senhorio velhaco territorial e tão pobre em espirito e afazeres que não hesita em invandir privacidade alheia sob desculpa de "revisão do estado das coisas". Por outro lado, os apartamentos deste andar são os únicos dotados de janela traseira, virado para o beco de trás e ambos estão ocupados. Circunstâncias amargas da vida, ou uma delas pelo menos. Bem, verdade é que esta tal vizinha que observo é no fundo cúmplice desta taradez, qual exibicionista semi-nua que entre risinhos e espalhafato insiste em abrir as janelas pela manhã com o máximo de barulho possível e com o minimo de roupa vestida. Não sei se a nudez é obra verdadeiramente sua ou dos namorados novos que pernoitam na sua casa (e pernas), todos diferentes, mas igualmente indiferentes à sua publicidade. Nunca sendo rude, acho que a malta agradece e a Musa não se importa. Pelo menos o Rui já convidou dois amigos para a manhã de cinema e nem assim a nossa actriz se coibiu, o minimo que seja. De facto, acho que foi o dia em que deu mais de si ao mundo do espectáculo. Será que a extensão da sua nudez é proporcional à sua audiência? Aqui está um bom desafio. Para já, vou estando seguro que a nossa actriz não nos falhará, já o Rui... Bem, fiquemos assim!

Com toda a estima,

Bachiatari Sensei