terça-feira, 6 de outubro de 2009

Demandas científicas (ou não) #2

Caros malditos e simpatizantes deste maldito blogue, tenho para vos contar uma história merecedora da vossa atenção, história essa protagonizada por mim e por um camarada. Garanto-vos que foi uma grande aventura por mim vivida.
Passou-se por estes dias um ajuntamento de mentes brilhantes, no qual eu e o meu camarada estivemos presentes. Neste tipo de encontros nós, brilhantes cientistas, temos como diversão a troca de ideias e o relatar de investigações nas quais estamos envolvidos. Qualquer pessoa que por lá passasse ficava encharcada com a onda de sabedoria que por lá se sentia. Depois de muito confraternizar e até porque a idade já pesa, resolvemos ir embora. Como o local deste encontro ficava no meio de nenhures tivemos que ir no meu carrito, um antigo citroen 2cv da mesma cor que o sangue maldito que me corre pelas veias, que apesar de ser bastante antigo serve para as minhas deslocações pessoais. Lá fomos nós, ainda meios reticentes se devíamos ou não aproveitar mais um pouco a festa, ansiosos por chegar aos nossos confortáveis lares para podermos assentar estes velhos esqueletos.
Já muitíssimo longínquos do local de partida, em plena escuridão, tendo como únicos focos de luz os faróis amarelos da minha 2cv e o luar que penetrava por entre o arvoredo, de repente ouve-se um grande estrondo que ressoa por toda a brenha e o carro estagna no meio da rua. Que se passou? Esta pergunta ressoava nas nossas cabeças. Saímos do carro, eu levantei o capo da 2cv e deparei me com o pior, o radiador tinha estoirado. E agora? Que fazemos? Perguntavámos nós. Como não somos grandes admiradores daqueles aparelhos de comunicação que todos acham primorosos, os telemóveis, nenhum de nós tinha um, não tendo por isso nenhuma forma de comunicar com alguém para pedir auxílio. Ali estávamos nós na penumbra, sem saber o que fazer. Estacávamos à espera que passasse alguém ou diligenciávamos regressar ao nosso ponto de partida pelos nossos próprios calcantes e pedir lá apoio? Passado uns breves momentos de reflexão e discussão decidimos caminhar na direcção do local onde estavam os nossos compinchas de ofício.
Lá íamos nós pelo meio daqueles trilhos ardilosos e pavorosos na expectativa de encontrar ajuda. Eu, apesar da minha idade e experiencia, tenho pouco espírito de aventura e pode-se dizer que a minha bravura não é bem a de um feroz leão (talvez de um pequeno gatinho), por isso digamos que enquanto andava no meio daquela negrura sentia algum temor e qualquer diminuto ruído fazia o meu velho coração disparar. O meu camarada, que em tempos foi um experiente combatente, tendo batalhado com o intento de defender os valores da nossa pátria, aproveitava a situação para me amedrontar ainda mais.
Depois de muitos quilómetros percorridos, já quase a cair de moimento, aprontamos que estávamos perdidos, pois nunca mais descobríamos os nossos compinchas e não fazíamos a mínima ideia de onde nos encontrávamos. Eu estava atónito com a situação, pensando que ainda tinha muitos anos para viver e muitas descobertas para fazer, não queria ficar sumido no meio de nenhures, enquanto que o meu caro camarada se divertia bastante com a situação. Sem saber para onde ir arriscámos caminhar até encontrar a povoação mais próxima e lá pedir auxilio.
Continuámos nós então a nossa jornada nocturna, sem rumo, até que de repente começamos a ver ao fundo o que parecia ser uma pequena aldeia, ao aproximarmo-nos reparei que aquele lugar me era familiar. Após um pequeno esforço da minha memória reconheci aquela pequena vila, era a vila onde eu passei um deleitoso fim-de-semana neste saudoso verão que passou. Já estava mais contente, pois já não me sentia tão à nora. Fomos caminhando pela vila dentro na expectativa de encontrar alguma alma que permanece acordada aquela hora e nos pudesse auxiliar.
Estávamos nos deambulando pelo areal, já quase sem esperança e a pensar que iríamos permanecer naquele local até ao amanhecer, quando avistamos ao longe um humilde cafezito, milagrosamente ainda com as portas abertas. Apressadamente caminhamos na sua direcção, onde encontramos uma empregada, que indiferente à nossa situação, nada fez para nos tentar ajudar, e uns alegres rapazes, que apesar do péssimo gosto musical, esforçaram-se em encontrar o número de um carro de praça que nos pudesse levar até aos nossos lares. O objectivo era chegarmos a casa para repousar e na manha seguinte ligaria a um garagista para ir buscar o meu veículo. Ligámos ao taxista pelo telefone do café e esperámos ansiosamente pela sua chegada. À chegada à porta da minha humilde casa, os nossos corações dispararam ao ver a conta que o taxista nos apresentou, mas enfim, lá tivemos nós que pagar. Finalmente em casa, senti-me novamente seguro e fui ter o meu merecido descanso.

Adegesto Pataca

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