terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Epitáfios para um médico de algibeira X

/Era um médico com uma catedral no coração. Questionava, examinava, auscultava, prescrevia e, não raras vezes, rezava. Também ele tinha a sua própria legião de beatas. Não se cansavam de olhar para os seus olhos. Garantiam que se o cabelo era talha dourada, então aqueles olhos só poderiam ser vitrais./




Hermenegildo Espinoza

domingo, 29 de janeiro de 2012

Os médicos e os milagres

Ladislau Patrício, Os médicos e o Público




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma casa que podemos dizer que é nossa




A nova casa do ICBAS / FFUP.



Hermenegildo Espinoza

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sinapses

Ouriquense, Lei Seca do Pedro Mexia e o Sound + Vision.




Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Gira-discos #40




Zooey, marry me.





Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

bacoco (1) rococó (2)

No meio do pátio do hospital, cercada por uns arbustos outonais e vigiada por um pequeno ajuntamento de gatos pretos, está uma capela em repouso. Nunca lá entres se não pretenderes depurar o espírito. Os gatos, outrora nómadas delinquentes, apropriaram-se da segurança do lugar e vislumbram de antemão todas as vontades, boas ou más. Não os provoques. Estão habituados a reconhecer a ralé e ninguém sabe se aquelas unhas conheceram uma lima. Se a morte de uma pessoa te trouxer ao pátio, não te precipites. Os gatos reconhecerão a tua angústia. Evita, contudo, a necessidade de os enfrentar. Os que o fizeram, mais que o desamparo do erro que ali os impeliu, lamentam ainda o rigor ético dos felinos. E o espírito nunca foi tão limpo.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gira-discos #39



The Smiths - Please, please, please, let me get what I want


O que eu quero, por favor, só desta vez, é que este dia se desmembre na memória. Se possível, que seja a cauda gasosa do cometa que, incauto, percorre o comprimento do calendário, sem saber que vagueia sempre na mesma órbita.




Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Possível topografia dos lugares interiores #51

51. pássaro em chamas, cadáver em cinzas.


Um cadáver em cinzas não é um corpo,
talvez tenha sido, com mais ou menos precisão,
algo parecido com o que vem nos livros,
mas destas cinzas não nascem homens.

Com mais pena voa o pássaro em chamas,
pequena ave que sabe como foi em vida o cadáver:
guarda em si o tratado anatómico do último homem.

Pobre pássaro que lamentas no fogo
não o homem que foi antes de ser cinza
mas o amparo que tendo existido já não há
e tanta pena temos de ti, pássaro em chamas,
que cais agora junto ao homem que se foi
e tornas-te num cadáver em cinzas também.




Hermenegildo Espinoza

sábado, 7 de janeiro de 2012

bacoco (1) rococó (1)

É a mulher mais charmosa daquela enfermaria. Até lhe perdoo as unhas de gel, essa praga artificial de queratinas de faz-de-conta. Diz um internista meu amigo que assim arranham mais. E ele gosta, apesar de nunca se ter queixado de qualquer escoriação por parte do paradigma caseiro. Se arranham ou não - possíveis armas de crime? -, a verdade é que aquela enfermeira, pouco mais de trinta anos, esconde nas formas por baixo da bata os alicerces mais elogiados de qualquer estilo arquitectónico. Não que os dias sejam passados na plácida contemplação da obra feita, mas antes na eterna congeminação de aproveitar a obra. Como se um dia nos fartássemos de observar a Janela Manuelina e decidíssemos, como jovens afoitos, subir a parede só para podermos espreitar por lá.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

bacoco (0) rococó (1)

A posição na cadeira permitia descrever o surgimento da escuridão. Não há celebração que não acabe em fartura, nem solidão que não se assemelhe a uma fortuna envenenada. O excesso da pessoa que queres ser é o defeito da pessoa que és. Mas não desanimes. Amanhã voltas para o sufoco e mais gente acabará por morrer sem que os teus olhos se apercebam. E um dia, não o neguemos, saberás auscultar mais que um pulmão, mais que um coração. Até lá, por muito que saibas como bate o coração do homem isquémico, ou como crepita o pulmão direito com a tosse do homem febril, não te iludas, e não tenhas medo de pedir a alguém que apague a luz, agora que só a escuridão te sossega.


domingo, 1 de janeiro de 2012