quinta-feira, 29 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

o meu é. e o vosso?

... ando perdido,por mais que vasculhe pelos recantos da vida.
Ou não os chego a revelar, ou a vida talvez não tenha recantos.
Nos recantos é que guardo os segredos mais preciosos, quais tesouros no fundo do mar, coisas que aos outros não dizem nada e que para mim são mais que barras de ouro num cofre bem selado, na Suiça. Como o tal tesouro no fundo do mar, os segredos são inacessíveis à maioria de nós, salvo àquele que o possui e sabe bem onde o tem guardado. Aceder a essa riqueza oculta, é bem mais simples que mergulhar num oceano e resgatar o perdido baú. Revelá-lo... bem, aí o cenário já se reverte. E reverte porque, não sendo excepção, tenho se vencer três forças: a gravidade, a impulsão e os outros. Se a gravidade e a impulsão andassem de mãos dadas, sorte a minha. Porém, isoladas, são barreiras a vencer, a gravidade aquando do levar o baú para terra, a impulsão quando pretendo alcançar o fundo do mar para agarrar o meu tesouro. Os outros, são aquela força que tenho de vencer, uma vez tendo o baú em terra. Apesar destas contrariedadas, uma vez existindo segredos, existem recantos.
Portanto, como para mim é inconcebível uma vida sem recantos, o mais provável é não os conseguir alcançar com o fim de revelar, ou porque estou a seguir o caminho errado, ou porque não sei onde ficam esses cantos escuros e recônditos. Ainda não pensei.
Bachiatari, Cluni, Ubirajara, Adegesto e Hermenegildo, um coisa vos digo, com vocês essas forças estão atenuadas (e eu tenho de me esforçar menos). Por isso, dedico-vos estas palavras e aproveito para deixar outras de saudade e revelar um dos meus segredos:
Todo o coração é de corda, e não há braços suficientemente grandes que possam dar corda ao próprio coração que os sustenta.
Galli Pitt

domingo, 25 de julho de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #13

13. o Verão a pedalar-nos nas articulações.


Na chegada dos pólenes
a bicicleta a subir na direcção do sol.
As articulações que no Inverno rangiam
sons sinoviais de esquecimento do movimento,
despertam orquestras de pirilampos nocturnos.
Nesses dias mais longos que a noite
começávamos sempre por ser mais novos.

Os joelhos esfolados com consequente sermão das mães
tinham mais vivacidade que a memória da geografia dos rios
naquelas mesas da escola espelhadas nos olhos cansados.
E o suor da correria era melhor que anti-inflamatório.

Inchados muitas vezes nas batalhas com os enxames de abelhas
ignorávamos os mecanismos das alergias, o desenho do corpo,
a existência da responsabilidade futura de correctas gincanas.
Sabíamos tanto de traquinice como hoje dos numerosos ligamentos,
das cápsulas, dos meniscos, da irrigação das áreas de acrobacias doridas.
E ainda agora o Verão chegou ao nosso pensamento antigo de criança
para nos fazer rejuvenescer um pouco, um pouco de vida para esbanjar.




Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Estes dias




São eles que vêm ao nosso encontro, mais do que a distância que percorremos na errante tentativa de os alcançar, tal vos garanto, caros dois leitores. Há uma viagem que não está terminada - a procissão ainda nem chegou à sua metade; no mais que podemos clarificar, a bem dizer se diga que este é o intervalo merecido para o clube. Não fugimos da responsabilidade adquirida (existe?), e nem hesitamos na hora da confissão: sim, isto enveredou numa quietude tímida. Uma parcimónia, disseram-nos, de quem parece andar com pouco para dizer. Errado, errado, errado, caros dois leitores. A gestão do tempo que se tem para transmitir o que se tem para dizer é que desencarrilou numa deficiente autonomia da relação espaço & tempo & outras obrigações. No fundo, a nossa justificação cai sempre nesta mesma lengalenga. Não haja fogueira preparada para a nossa combustão, assim esperamos, caros dois leitores.
Estes dias são agora a errante tentiva de uma não existência exterior, apenas a justificada existência interior, do retemperamento freático. Diria Mia Couto: tempo de brincriação da criança. Pousar o estetoscópio, os tijolos com a topografia do corpo padrão, das sequências repetitivas do nosso genoma, do reforço positivo das nossas boas intenções, das defesas além-sangue, da resposta à fisiologia do medo e, para o fim onde tudo tende, a constituição dos tecidos aventurados. E siga a marinha para diante do que foi ontem.



Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 20 de julho de 2010

Gira-discos #22




Washed Out *

Melodias que tresandam a Verão. E a mudança de paradigma: uma banda inteira enfiada num laptop, onde carradas de sintetizadores, loops mirabolantes e algumas linhas suaves de voz dão o mote para a frescura auditiva de uma época quente: somos familiares que presenciam o nascimento do Chillwave.
Cada música uma fotografia de lugares comuns, de tentativas de decifrar os espelhos baços em que a nossa imagem incide. No fundo, melodias que induzem em nós uma ilusão de telomerase: uma faísca de eternidade, porquanto sabemos que eterna é a ideia de sermos eternos, enquanto eterno for perene o pensamento do eterno. E não se esqueçam dos chinelos e da toalha.




* nome das músicas no sentido dos ponteiros do relógio: Belong; You'll See It; Feel it all around; You and I.






Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Leituras & Remédios #11



Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar não amam.



Jorge de Sena,
Peregrinatio ad loca infecta



(não se pode exigir mais nada a quem assim transmite
aquilo que não não se consegue agradecer o suficiente:
farpas e o amor de dar o amor de receber.

a leitura como um dos melhores remédios)


Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 13 de julho de 2010

Serviço Público

De quando em vez, aparece o chamado indivíduo desvio-padrão, alguém que se nota à légua que gosta de ultrapassar a pasmaceira normal pela esquerda. O país precisa destes indivíduos como pão para a boca. Um deles é o B Fachada, o melhor cantautor iniciante e em desenvolvimento neste pedaço de terra. Olho para ele como o maestro da tragicomédia, alguém que abana o chinelo no compasso da viola, na companhia da bela poesia rasgada em cochichos da urbe e da aldeia. Há muito, confesso, que não via na música portuguesa quem pegasse no povo desta maneira para o levar ao colo nas suas músicas.
Mais interesante ainda é que o B Fachada, tal como havia prometido, disponibilizou gratuitamente o seu novo disco de Verão, o EP que dá pelo festivaleiro nome de Há Festa na Moradia. Para o obter, carreguem aqui. E façam um favor a vocês próprios e procurem o resto da discografia do homem.






Hermenegildo Espinoza

sábado, 10 de julho de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #12

12. a cronobiologia dos que não conseguem sonhar.


Estirado sobre a cama
um livro aberto nada mais é
que um livro aberto
ainda que, para nosso bem,
porta de entrada de múltiplos mundos.

O que não é regular
é esta falta de alelos nos sonhos,
essa incapacidade de nós
vivermos outro
como se um
qualquer outro
fosse nós.

Pelo que a contínua imaginação positiva
a insuflar-nos o córtex de dendrites apelativas
terá o condão de nos fazer bocejar sem medo,
e em qualquer apneia obstrutiva dos sonhos
virão esses outros depositar-se nos ponteiros de nós.




Hermenegildo Espinoza

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Imagiologia (quase) médica #11





Harlow & os macacos Rhesus


Hermenegildo Espinoza

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Gira-discos #21




A casa tem o peso do silêncio de quem lá vive. Não só madeira comem as térmitas, mas algum do silêncio vai com elas também, enquanto nós as ajudamos. É nessa digestão dos lugares comuns que o quotidiano vive esfarrapado na compaixão dos dias para os quais não temos paciência, destreza ou o maneirismo adequado para a rebelião, e por isso nos dizem, aqueles com um monóculo nas páginas das estantes,
- Os compartimentos da casa são jardins ocos,
E se ausente é a matéria, de que é feita a casa, afinal?, talvez os alicerces sejam então um produto de arquitectura banal, rarefeitos pelos interstícios fulminantes da nossa vulgaridade, verdade que são, só pelo cálcio dos ossos que vai invadindo a medula, não nos chega perguntar,
- Se o jardim é oco, que é feito do jardineiro?,
Perdido andará ele pela selva urbana, com a ciência ignorante, sem qualquer pressa de chegar longe, amparado por um guia deitado ao seu lado, pois sabem os dois que não há como avançar, apenas que, entretanto, há uma altura na vida, dessas várias lotarias, em que o esquadro, o transferidor, a régua, a biologia, a física de nada valem para o cálculo da nossa posição no cosmos, de maneira que, se perguntarem, respondo,
- Não há lugar melhor que uma ilha deserta dentro de casa,
Concluindo, claro, que se o silêncio é maior do que nós, se há mais vácuo que portas na irrigação das estirpes que povoam a nossa personalidade, não custa, nunca custa, enfim, fechar os olhos, fechar as narinas ao ar, nada ouvir, nada sentir, nem um esboço de paladar, para esse jejum intenso dos nossos sentidos nos revelar a história contada pela filogenia do amor que nos deram, algo assim,
- Juro que não há nada, nada melhor do que a casa onde vamos morrer.


Este texto é dedicado a um amigo, daqueles que nos ajudam a mirar o início e o fim das coisas, estando nós no meio delas.



Hermenegildo Espinoza

domingo, 4 de julho de 2010

por falar em filhos...

Cristiano Ronaldo: uma versão da Virgem Maria, à século XXI.

Sorte a Daquela senhora, porque o acordo que fez não teve oportunidade de vir ao de cima na altura, má sorte a do "capitão português" porque para seu azar, ou para seu bem se a sua intenção é alterar o status quo, existem media.

Uma coisa é certa: para limar qualquer aresta, "Falem com o Queiróz!".
E preparem-se, pois se para o dito cujo ter filhos é como o Ketchup, vêm aí as escolinhas da equipa CR9. Quase sou tentado a apostar que estará sedeada na África do Sul. O tempo o dirá, compinchas.

Pitt

Vuvuzelas e Opiniões #2



É verdade, o sistema surround foi mesmo devolvido. Vuvuzelas? O que aconteceu ao homem da corneta da bancada central do estádio e aos cânticos insultuosos entre adeptos? Quererá Platini ensurdecer o Mundo numa tentativa de impelir a selecção francesa por meios que não uma mão de Henry? Náo percam o próximo episódio, porque nós, também não.

(E tudo explica, como é que a Alemanha perdeu a guerra. No Dia D, os Aliados entraram na praia de Normandie ao som de vuvuzelas. E nem um tiro foi disparado.)

Cordiais saudações,

Bachiatari

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Vuvuzelas e Opiniões #1




Vuvuzela. Adorada por alguns, enfadonhamente desprezável para os restantes.
Desengane-se quem pensa que este objecto só agora foi inventado. O seu mítico poder é que só agora se revelou. "This is only the beggining". Talvez tenha que ver com o Mundial e a disseminação deste arsenal, o facto da avançada sociedade Maia prever o fim do Mundo para 2012!

Saudações malditas,

Bachiatari

Aparte



Ainda há vida, afinal. Resquícios que nem a mais animalesca besta poderá dilacerar.
De facto, e parando para pensar, nunca deixou de haver! Aproveitemos a oportunidade.
Em breve vos contarei uma história.

Cumprimentos de um reaparecido.

Bachiatari Sensei