"(...)
- Tudo isso são idiotices...O Amor? Pf...Mas que vem a ser o amor? Uma necessidade orgânica, nada mais. Para obrar, podemo-nos servir de um vaso de loiça; para amar precisamos de um recipiente de carne...O Dante, o Camões Zarolho...Bolas!...Patetinhas alambicados, imbecis versejadores...Tu, provavelmente, meu patarata, não foges à regra geral: vais para aí, ao lusco-fusco, dizer mil banalidades a qualquer burguesinha sensual e camafeu...Resistes, a pé firme, ao vento e à chuva, hein?...Pobre de espírito! Felizardo...Irás para o reino dos céus...Ah!Ah!
(...)"
página 12
"(...)
Que a loucura, no fim, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos homens adoptou um sistema determinado de convenções:
É a gente de juízo...
Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria...são doidos...
Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o género da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu.
(...)"
página 37
"(...)
Se Raul se mostrava esquecido das suas manias, despreocupado e jovial, era precisamente porque, mais do que nunca, se deixara apossar por elas. Provam-no as suas notas diárias que nesta época abundam: bizarras, nebulosas, indecifráveis na maioria"
página 69
Mário de Sá-Carneiro,
Loucura
3ª edição da ulmeiro, 1999
págs:78
(a leitura como um dos melhores remédios. a loucura. da normalidade com reduzido desvio-padrão para a anormalidade. o que é aceite como regra que dita a sociedade. a subjectividade das interpretações. somos tudo menos normais. com elevado intervalo de confiança.)
Hermenegildo Espinoza
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