terça-feira, 29 de setembro de 2009

Devaneios Meditacionais #8

"O princípio da maximização do espaço e dos materiais."
Teoricamente, definição salta à vista e nem é preciso ser um exímio anatomista para o entender. Não obstante, insisto em dissecá-la em palavras miúdas, para tornar fácil a sua compreensão: principio segundo o qual determinado local é aproveitado ao máximo para atafulhar com as mais variadas coisas e dar trabalho ou motivos de chatice a quem "abrir a porta" a seguir - por porta leia-se corpo.
Bem, por um lado este fio de raciocínio ajuda-me a compreender todo um motivo de orgulho de alguns em ser dotado de "pequenas bananas, ainda que grossas". Nada mal, para altruísmo.
Mas depois surge-me a questão... "Porque raio é que o Milka Choco Swing tem que ter mais calorias que um pastel de nata? ". A resposta, essa, surge num ápice: Alpes! A mania dos suíços se meterem em nevões e viverem 8 meses lá no alto com temperaturas abaixo de 10 graus negativos, mas ao mesmo tempo terem esse dom de manipular o néctar divino que me embeiça desde jovem e me borra cara e barba, de uma maneira tal que até engelho os dedos dos pés de cada vez que as papilas gustativas dançam a lambada ao som de edulcorantes e extracto concentrado do cacau. Yummy! Por eles, é juntar o útil ao agradável... O docinho e o gordinho para superar o Invernozinho. Para mim, uma fuga ao fisco para os contrabandear a baixo preço e uma vida maluca de corridas anti-calóricas, a qual a glutationa começa a ter dificuldade em acompanhar. Parágrafo.
Hey, espera lá... Mas as bananas deficitárias em nada têm que ver com o doce Milka...
Desenganem-se, há alguém que sempre consegue descontextualizar conversas a este ponto, o de nos perdermos e ficarmos atónitos e indecisos entre a falta de vontade de responder ou o impulso de virar costas e dizer adeus. "A quem lho serve, que enfie o barrete".

Com toda a estima,

Bachiatari Sensei

sábado, 26 de setembro de 2009

Devaneios Meditacionais #7

Neuroanatomia. Com isto abro o pequeno devaneio que vos trago. Por definição "é o ramo da anatomia que estuda a organização anatómica do sistema nervoso", e na prática? Há quem concorde, é verdade, eu próprio talvez o venha a fazer, mas de momento acho mais aplicável "ramo da anatomia que dilacera e mói toda uma organização nervosa pré concebida e que se, de facto, se entendesse patavina do que descreve poderia vir a ter utilidade clínica". Parece-me justo.
Enfim, fazendo um diagnóstico à coisa, quase que se poderia chamar Síndrome de Mariquicis Facultis a toda esta panóplia "psiquico-patológica". O irónico, é que ainda agora começou.

Bom, há que soltar as feras e a este ponto tornar esta conversa realmente interessante (nunca descurando a relatividade inerente a qualquer matéria - jamais desrespeitar os ensinamentos do Mestre Einstein- e por isso admito excepções). A verdade é que o nosso caro Adegesto Pataca se lançou à aventura e, dando corpo e experiência ao manifesto, ingressou no mundo da música, revelando dotes vocais nunca antes vistos e uma presença em palco verdadeiramente extasiante - diria que capaz de relegar a atenção conquistada pela sensualidade do Toy e pelas piadas porcas do Herman para um baú de madeira revestida a titânio de Goblin e selado com pingo de solda do mais resistente, seguidamente carimbado pelo Rei Artur e selado com o anel papal.
Pela sua modéstia de artista do povo, ele negá-lo-à, pela certa. Cabe-me a mim, aos maçónicos que comigo estão e aos que quiserem cá chegar profetizar por entre esquinas e vãos de escada que o músico do povo chegou para nos salvar.

Com toda a estima,

O Sensei

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Reencontros & estiramentos



Não há melhor conforto do que regressar de um período de férias pleno de sapiência da preguiça e de outras miudezas e, invariavelmente, reconhecer a presença daqueles seres constantes no nosso pensamento e nos vários projectos com que nos deparamos. O clube tem sido, desde o início, a ambivalência e o amparo de um grupo de amigos ligados por pequenos fios, sinapses tão ténues que não raras vezes constatamos pensar simultaneamente na mesma coisa. E, contudo, heterógeneos somos e ainda bem que tal acontece. As nossas personalidades quase bipolares, imersas num quotidiano citadino, permitem um enquadramento nas várias geometrias da realidade. Não somos substância superior ou matéria arrogante: convivemos com os nossos imensos erros, defeitos, traços irritantes de personalidade e igualmente sofremos, como o maldito Darwin vaticinou, da selecção natural e sexual com que nos agarramos aos vértices baços da sociedade. Porém, tendemos a trabalhar como um sincício funcional: almejamos os mesmos objectivos, intrigam-nos as potencialidades da Ciência - alicerçada nas ciências médicas e de largo espectro nas demais áreas do saber - procuramos, dentro dos nossos gostos, discutir e produzir arte em todas as suas expressões, tendo como base essencial a escrita e a leitura. Muito do que até aqui se desfiou é uma pequena amostra do universo de hipóteses por nós testadas em todos os âmbitos. Poder-se-ia rotular isto como um curriculum vitae do rasto das nossas pegadas, e, parafraseando, o caminho faz-se caminhando.
Com agrado nos voltámos a reunir e as ideias não rareiam, pelo contrário, irromperam num surpreendente alinhavar de ideias-esboço. Outros projectos, desta feita paralelos, assomaram aos nossos planos. Nos próximos tempos andaremos a tentar conciliar todas estas novas variáveis nas nossas vidas e permaneceremos, na medida da nossa disponibilidade, a destilar aquilo que sabemos e que nos aprouver partilhar. Paciência impõe-se, e podemos confessar que temos ideias ao nível do conteúdo do clube, da sua imagem e das suas fronteiras. Na devida altura, quem apreciar esta aventura que tanto tem de ridícula quanto de ambição, poderá vir, como o tem feito, esmiuçar o nosso promontório de bites e bytes, zeros e uns.
Da reunião magna, a acta lavrada ressoa uma plêiade de entusiasmo e uma miríade de sorrisos. Contam as paredes que houve quem de lá saísse com cãibras e estiramentos ao nível do músculo risório, do levantador do lábio superior e do zigomático maior.
Os nossos cumprimentos mais amistosos, em especial do Cluni que tem andado estafado com o estudo minucioso da anatomia feminina, sem fronteiras aparentes.




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Gira-discos #9

Vampire Weekend - Campus

Ultimam-se arrumações, retira-se o pó às mentes menos usadas (um pano seco basta, dizem), reformula-se o guarda-fatos para as intempéries do inverno, gasta-se dinheiro que dói nos bolsos, novos beijos são distribuídos, abraços e "olá-tudo bem". Novas sementes germinam, capas negras nos ombros, regresso ao café matinal e às piadas íntimas. Sejam muito bem-vindos à ordem natural das coisas. Ao fundo, a estátua do egrégio Abel sentado numa poltrona mirando-nos. Eis para alguns o verdadeiro Campus.



Hermenegildo Espinoza


(Vampire Weekend, o glorioso regresso da camisa por dentro das calças)

sábado, 12 de setembro de 2009

Del médico que no sabe más que Medicina, tem por cierto que ni Medicina sabe*


A História vive de remodelações, de arquivamentos e, não raras vezes, do modo oblíquo de tresler o que é dito e escrito. No debate José Sócrates vs Manuela Ferreira Leite, enquanto replicava as acusações de não perceber patavina de economia, o primeiro-ministro citou uma frase do conceituado médico Abel Salazar (1889 - 1946) que “aparece na Faculdade de Medicina do Porto e que diz: o médico que só sabe medicina, nunca será um bom médico”. De facto, o aforismo é ligeiramente diferente: “o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe” e aparece no átrio de entrada do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, atrás do busto do egrégio cientista. O engraçado disto tudo é que a frase tem sido retirada, ao longo dos anos, a outro grande médico e filósofo espanhol, José de Letamendi (1828 – 1897). Ao que parece, Abel Salazar utilizava a referida citação como seu lema de trabalho – basta ler a sua biografia e constatar a sua personalidade multifacetada – e o tempo acabou por lhe atribuir (em larga escala, principalmente no nosso país) a autoria do pensamento, com a colaboração em geral das pessoas na linha do quem conta um conto acrescenta um ponto. Pelo menos é aquilo que é transmitido na cadeira de História da Medicina e aparece mais do que certamente no exame para tramar os mais distraídos, que os há.


*retirado do documento "Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI" de vários autores, dos cadernos de cultura da Universidade da Beira Interior. Ler, em especial, da página 57 à 59, da responsabilidade do professor Romero Bandeira, agregador de multidões de ausências nas aulas teóricas.



Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Leituras & Remédios #4


52

(..)

"I bequeath myself to the dirt to grow from the grass I love,
If you want me again look for me under your boot-soles.

You will hardly know who I am or what I mean,
But I shall be good health to you nevertheless,
And filter and fibre your blood.

Failing to fetch me at first keep encouraged,
Missing me one place search another,
I stop somewhere waiting for you."

1855

_____________________________


52

(...)


"Entrego-me ao húmus para crescer da erva que amo,
Se me queres ter de novo, procura-me debaixo da sola das tuas botas.

Dificilmente saberás quem sou o que significo,
Todavia dar-te-ei saúde,
E filtrando o teu sangue dar-te-ei vigor.

Se à primeira não me encontrares, não desanimes,
Se não estiver num lugar, procura-me noutro,
Algures estarei à tua espera."


1855



Walt Whitman,
excerto do poema 52, páginas 142 e 143 da obra "Canto de Mim Mesmo", edição bilingue (Inglês e Português) das edições B.I. - Biblioteca editores Independentes".


(a leitura como um dos melhores remédios. um manual para negar a futilidade. nenhum átomo é frívolo. é que o nosso centro de massa está carregado de multidões.)


Hermenegildo Espinoza

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

uma questão de essência médica


11:38.


Eram os digitos que marcava o relógio digital estampado defronte da marquise onde jazia, quando recuperei a consciência...


Apesar das recordações serem vagas, as sensações processadas pelo corpo que me suntenta eram incontestáveis: em primeiro lugar, o raio catódico gélido que teimava em marcar presença na minha mão e se projectava braço acima, uma espécie de estria catabática, e, em segundo, o latejar estridente na minha cabeça resultante da queda desamparada no bloco.

Era, indubitavelmente, o casamento perfeito: hematoma e saco com gelo.


O vento estava a ser tudo menos ponteiro.





Havia me levantado à hora certa e ainda antes das 8h me encontrava no Hospital. Não queria falhar neste meu 1º dia de estágio (supostamente 2º... se considerarmos que esperar 4h, para ter uma conversa de cinco minutos com o cirurgião a combinar o dia seguinte, é estágio).


Conversa para um lado, apresentações para outro e tudo estava a ir de vento em popa.


- Na próxima porta virás à direita. É lá o vestiário masculino.


Sentia a adrenalina correr-me os vasos e o entusiasmo era enorme. Com efeito, de uma hora para a outra, dou por mim trajando umas vestes verdes, uma touca e uma máscara. Outro passo em frente e encontrava-me num lugar de sonho: o bloco operatório.


O equipamento, a enfermeira instrumentista, a enfermeira de serviço e o seu colega que se estava a integrar, os cirurgiões, os instrumentos, a temperatura controlada, o material esterilizado pronto a abrir, a médica anestesista, os medicamentos, a marquise de última geração, os focos e os odores faziam daquela sala um mundo à parte, porém fascinante.


Voltei-me para a parede e, para matar a curiosidade, estavam agendadas as cirurgias que se fariam nesse dia.


"Cancro cólon rectal - Dr X, Dr Y e Dr Z"


Era o meu dia de sorte. Apesar da cirurgia ser longa , ia assistir a um cateterismo central, à aplicação da epidural e à cirurgia propriamente dita. Ia ser uma manhã longa e singular. Por isso, até me tinha sido dada autorização para sair e comer durante o acto.


Horas de começar a cirurgia.

Paciente colocado na posição fetal.

Médica anestesista dirige-se ao dorso do paciente.

Passa uma espécie de álcool iodado na projecção cutânea das vertebras lombares e arredores.

Injecta-lhe um líquido que priva o paciente de sensibilidade cutânea nessa zona.

Paira uma mistura de ódores no ar que pareciam anestesiar-me mais a mim que ao paciente.

Insere um catéter na pele (entre L2 e L3, suspeito)

...

...

...

...tudo negro. Não me lembro de mais nada. Ainda nem tinha saído para comer e já estava a "fazer la siesta".



Galli Pitt





quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Gira-discos #8 especial

The Beatles - You Never Give Me Your Money + Golden Slumbers + Carry That Weight + The End


Hoje é o dia dos Beatles. Foi lançada toda a discografia remasterizada destes senhores, juntamente com um jogo para consola (que não interessa nada, o que interessa é a música dos Fab Four). Não é preciso acrescentar rien de rien. Por isso, tomem lá com estas quatro músicas do famoso Abbey Road, que data de 1969 (40 anos!) e que ainda me faz perder as estribeiras que nem um adolescente cheio de acne e testosterona para dar e vender.





Hermenegildo Espinoza

sábado, 5 de setembro de 2009

Gira-discos #7

Manuel Cruz (Foge Foge Bandido) - Borboleta

Agora pára de fazer sentido. Entre borboletas e furacões temos alterações infímas. O que éramos há um ano? O que seremos daqui a uma semana? Nada sempre nos disse muito. O interessante do actual quotidiano, creio, é interpretar o silêncio das casas, o silêncio da noite, o silêncio que, noutros mais noutros menos, irrompe à medida que tentamos adormecer. Esse silêncio ensurdecedor, admitamos, revela-nos quase tudo o que desejamos saber. Contudo, o problema é conseguir ouvi-lo e submetê-lo ao raciocínio objectivo. Enquanto não o conseguirmos - ou, se o ouvimos de facto, como saberemos que estamos a interpretá-lo correctamente? - permaneceremos nesta escada rolante de sentido único, tentando, com as devidas variações, organizar o nosso caos. Vale o esforço, acredito. Por enquanto, reconfortemo-nos com a ideia segura de que vivemos entre borboletas e furacões. E, se calhar, afinal nunca fizemos sentido algum.

"Tu és o teu mundo
Tu és o teu fundo
Tu és o teu poço
És o teu pior almoço
És a pulga na balança
És a mãe dessa criança
És o mal, és o bem
És o dia que não vem

Tu és tu sempre que tu és
És mesmo tu quando pensas que és outra coisa
Tu pensas que não, mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és"

Hermenegildo Espinoza



Caro Sensei, como me arrependo de não ter ido ao festival, especialmente para deliciar-me com Manuel Cruz, esse foge foge bandido que concebeu as 80 sublimes músicas do "O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu que Estraguei". Deu-me uma das minhas crises agorafóbicas e resignei-me a gritar, aqui pela casa, impropérios para os meus gatos - coitados deles que não tiveram culpa nenhuma. Diria o meu avô que preciso ainda de umas quantas sopas de cavalo cansado.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Imagiologia (quase) médica #4


Ora vejam o pobre garoto - sorridente como tudo e com umas bochechas rubicundas que sugerem já uma taxa de alcoolemia superior para ao permitido por lei se for conduzir, o que parece provável - a barbear-se como se não houvesse amanhã! Com a espuma bem distribuída, empunhando a gillette com lâmina segura. Olhem para ele! Ainda há pouco deve ter saído do útero materno e reparem na pinta do sujeitinho. Aposto que ainda nem o esfincter anal controla, para pena dos pais que lhe devem mudar os resíduos tóxicos e pôr um pouquinho de halibut para não queimar a pele do traseiro.
Não, o que me enerva não é este marketing/advertisement (ainda que muito antigo da famosa Gillette) utilizar um bebé como maneira de cativar a clientela. O que me enerva, isso sim, é o raio do miúdo com uma lâmina daquele tamanho não ter sequer um corte na face, enquanto eu ando aqui com cicatrizes na cara, encarando cada barbear matinal como o último da minha vida, não vá eu esvair-me em sangue com a minha agilidade de mãos. Talvez venha daí a minha tendência para deixar crescer a barba. Porquê, meu Deus, porquê?



Hermenegildo Espinoza

O que está para vir #1


Dizem que os japoneses são espertos e os maiores ases na electrónica.

É fazendo jus a esta afirmação (nem sempre verdadeira, é certo) que apresento o protótipo da nova cadeira de rodas nipónica, à qual só faltam mesmo os propulsores a jacto e meia dúzia de néons para parecer uma nave espacial.

Há quem chame a esta menina, Rodem de nome, um robot, facto desmentido por alguns dos "seus pais" que a entendem demasiado descomplexa para o efeito, referindo no entanto que a sua complexação será um projecto bastante capaz, o que desde já vos deixo à disposição de ler aqui.



Com toda a estima,



Bachiatari Sensei