Manuel Cruz (Foge Foge Bandido) - Borboleta
Agora pára de fazer sentido. Entre borboletas e furacões temos alterações infímas. O que éramos há um ano? O que seremos daqui a uma semana? Nada sempre nos disse muito. O interessante do actual quotidiano, creio, é interpretar o silêncio das casas, o silêncio da noite, o silêncio que, noutros mais noutros menos, irrompe à medida que tentamos adormecer. Esse silêncio ensurdecedor, admitamos, revela-nos quase tudo o que desejamos saber. Contudo, o problema é conseguir ouvi-lo e submetê-lo ao raciocínio objectivo. Enquanto não o conseguirmos - ou, se o ouvimos de facto, como saberemos que estamos a interpretá-lo correctamente? - permaneceremos nesta escada rolante de sentido único, tentando, com as devidas variações, organizar o nosso caos. Vale o esforço, acredito. Por enquanto, reconfortemo-nos com a ideia segura de que vivemos entre borboletas e furacões. E, se calhar, afinal nunca fizemos sentido algum.
"Tu és o teu mundo
Tu és o teu fundo
Tu és o teu poço
És o teu pior almoço
És a pulga na balança
És a mãe dessa criança
És o mal, és o bem
És o dia que não vem
Tu és tu sempre que tu és
És mesmo tu quando pensas que és outra coisa
Tu pensas que não, mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és"
Hermenegildo Espinoza
Caro Sensei, como me arrependo de não ter ido ao festival, especialmente para deliciar-me com Manuel Cruz, esse foge foge bandido que concebeu as 80 sublimes músicas do "O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu que Estraguei". Deu-me uma das minhas crises agorafóbicas e resignei-me a gritar, aqui pela casa, impropérios para os meus gatos - coitados deles que não tiveram culpa nenhuma. Diria o meu avô que preciso ainda de umas quantas sopas de cavalo cansado.
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