quinta-feira, 25 de março de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #3

3. a grande concavidade na base da nuca


É esta a semiologia e o retrato anatómico do corpo
daqueles que passam muito tempo de pescoço estirado
para o alto, para longe, para finos recortes de horizontes,
espelhados sabe-se lá onde e por que justificações ou álibis.

Normalmente acompanhados por errantes tentativas
chamadas também processos de aprendizagem do assobio,
como iniciação e manutenção do escorreito fluir do sopro.
Afinal temos mais fáscias encerrando a nossa maquinaria
do que aquelas que nos são dadas a vislumbrar.

E se questionarem e exigirem explicações:
- O que se passa com a minha nuca, doutor?
Não fales logo nas suas vértebras
nem respondas de pronto hiperlordose cervical.
Sempre lhes poderás dar tempo de imaginar
que andam vergados pelo peso dos sonhos,
de cabeça tendendo para tropismos de expectativas.




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 22 de março de 2010

de comissuras labiais...

É dado sem esperar moeda de troca. Porém, se retribuído, enaltece corações.
Gesto muitas vezes invonluntário, simples, efémero e, contudo, com efeitos duradouros.
Relembrem lá o último que receberam!
Hmm... Nhami!
Não importa se veio de "um fiat 600 ou de um mercedes".
Muito menos importa a intelectualização do coiso. Pouco mais ou menos, se liberta endorfinas, blá,blá,blá... ou se é parte constituinte de comportamentos de membros da mesma espécie, humanos suponho, face a um dado estímulo - um padrão comportamental, portanto.
Antes interessa a... sensação.
Essa sim, desprovida de qualquer filtro e isenta de processamento lá nas medulas. Sensação pura e crua.
(com tudo o que aqui escrevi, perdi a essência do último que recebi)
Se vivia sem ele? Jamais.
E vocês, viviam sem ele?

Que seja a primeira coisa a ser feita amanha. Vá, pode ser depois de lavar os dentes e do chichi matinal.

Pitt

sábado, 20 de março de 2010

Felicitações...

Felicitações a este notável clube e a todos os malditos que a ele pertencem. Faz hoje um ano que começamos a expressar os nossos devaneios nesta pequena extensão da infindável internet. Espero que para o ano cá estejamos todos a solenizar um segundo aniversário.


Com os melhores cumprimentos

Adegesto Pataca

Per voi, dannazione!


Um ano passou!


Adegesto, o Pataca,
Douto na episteme,
Desde que pôs cá o leme,
Nunca mais fechou matraca.

Um ano passou!

Por entre os dias,
Bachiatari, o mestre,
De indumenta rupestre,
Espalhou no blog sabedorias.

Um ano passou!

Não é muito dado a datas, "o home",
Nem a terras ou a mares.
Mas plausível G.M.Tavares,
Espinoza é o seu nome.

Um ano passou!

Oriundo de sítios remotos,
É índio de cara,
Também a este bando se juntou,
Piatã, Ubirajara.

Um ano passou!

" sim...
hum...
yeah..."
Cluni!

Um ano passou...

Pitt

...um ano passou.
um ano.
um.
1.



Ao Adegesto, felicito-o pela sua periodicidade (período 6).
Ao Bachiatari, ou melhor, Alter Ego,felicito-o pela sua originalidade.
Ao Cluni, felicito-o pelo seu libido e pelo sagrado xis.
Ao Hermenegildo, felicito-o pela qualidade e assiduidade das marcas que no blog maldito deixa.
Ao Piatã, felicito-o por nos alinhar e sincronizar os chakras.

Cumprimentos, camaradas

Pitt

Lemniscata

O Clube dos Médicos Malditos faz hoje um ano. No baptismo, tínhamos muito que fazer e pouca vontade. Continuamos a ter muito que fazer, mas agora a vontade é muita. Portanto, hoje é dia de um. O regozijo da data está em termos aguentado. Nada mais há para querer, penso eu, a não ser continuar. A persistir na adoração ambígua à entropia e na resistência à pasmaceira altiva. Está o Clube, nós os seis, apontado para o infinito. Os números que vierem no meio serão para lembrar aos nossos corações e à nossa razão de que o tempo passa, mas que, se quisermos, o fazemos contrair à nossa imponência. Dou a palavra aos meus irmãos.




Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 16 de março de 2010

Gira-discos #17



The Killers - Happy Birthday Guadalupe!


Fernando Pessoa, ou melhor, Álvaro de Campos (que me perdoe Pessoa a troca inicial de identidades entre homens tão distintos, o mesmo se aplicando ao senhor engenheiro Campos) escreveu, em 1931, um poema magnífico, chamado Oxfordshire, que termina assim: «É-se feliz na Austrália, desde que lá se não vá.» Por um lado, é um fecho tão simples mas ao mesmo tão entricheirado para o poema, algo que se nota tão ao de longe, mesmo para míopes, prebíopes ou para gente portadora de cataratas mentais, com nevoeiros cerrados a empobrecer o raciocínio, quer por preguiça, quer por teimosia. Por outro, olhando para nós, fazendo da nossa epiderme o nosso próprio espelho (uma espécie de queratina com poder de reflexão), resta-nos interrogar se, da mesma maneira que podemos ser felizes na Austrália desde que nunca lá punhamos os pés, se não temos sido, ou vamos sendo, felizes em lugares onde não estamos, onde nem sequer um dia iremos estar. Felizes a pensar o que hipoteticamente seremos, a que futuro nos levará o passado que ainda há momentos era presente. Eu sei que é chato falar disto, mas não sei falar de mais nada a não ser de dúvidas, tudo são dúvidas, mesmo a alegria de pensar ou a expectativa de pensar que posso ser alegre a pensar. Será que posso ser feliz desde que nunca me ponha dentro de mim mesmo? São questões essenciais para ruborizar até mesmo o senhor de la Palisse. Dá vontade de cantarolar, a descoberto de qualquer fachada: estar à espera ou procurar?
Nunca estive em Guadalupe, mas posso garantir que seria muito feliz por lá.



Hermenegildo Espinoza

sábado, 13 de março de 2010

Somações espaciais

Nós gostamos muito de ler outras coisas, não nos entricheiramos em nós mesmos. Daí que andamos a espreitar os outros na tentativa de nos encontrarmos. Diz o Cluni que só nos devemos perder por mulheres, mesmo que tudo indique que não dará certo, mas vale o risco, diz ele, no meio de tanta chapada poderá aparecer um miminho para fazer um homem pular. Sabe bem o Cluni do que fala, ele que já se tem metido em situações caricatas, com a constante presença de elemento XX no meio da caldeirada.
Ora bem, vamos lá então aumentar as sinapses deste blogue. Para a barra lateral entram o Debastadelas (gente com tendências gastronómicas algumas vezes requintadas com fragrâncias de javardice - um festim, portanto. Desejamos uma longa vida ao blogue e que o Xico Cruz adquira assiduidade para com a sua higiene) e também o Ideias de Vão de Escada (onde há histórias de uma vida, fragmentos de outras, bom-gosto, sarcasmo e, invariavelmente, respeitinho para com a língua portuguesa). Como modo de agradecimento deixamos a Alice. Dá para deixar as pessoas felizes em tempos conturbados.







O Clube dos Médicos Malditos

quarta-feira, 10 de março de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #2

2. as asas do nariz não ajudaram Ícaro a voar


O cheiro do ar tem muitas constelações:
Ursa maior, Ursa menor, receptores por localizar.
Não podemos voar se não quisermos aprender a mudar.
Imagina flutuares até à estratosfera,
imagina voltares à terra de igual modo e feitio.
Se assim o fizeres não leves a mal,
mas serás engolido pela voracidade da nossa esfera.

Asas de cera em nada se comparam
às de cartilagem e alguma gordura do nariz,
pois se com as outras podes ter a ilusão de voar
com estas podes ter a certeza, chama-lhe diagnóstico,
do síndroma benigno de descobrir o sítio onde queres ficar.

Disseram-me que Ícaro pode ter voado até à altura do sol
ignorando as advertências de Dédalo seu pai, seu leme,
mas aposto que inalou e bem o cheiro da queda e da morte,
e nesse sítio ficou a descansar, sem as asas de cera e as do nariz.






Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 8 de março de 2010

o estado das coisas

Malditos,
a Terra está a dar de si! E não é capricho meu (muito menos peido).
Deparamo-nos com sucessivos terramotos e replicas: Chile, Japão, Turquia e Chile novamente... Quisera eu estar em todos esses sítios, como estive em Átila. Lá, deixei as minhas marcas e fui marcado. A verdade é que seria contraproducente, e praticamente impossível, estar em todos esses espaço-tempos muito próximos, como também seria utópico, nesse intervalinho de tempo, aqui o Pitt soltar uns flatos valentes. É que nem mesmo estando mal dos intestini seria capaz de gerar catástrofes consecutivas dessa natureza.
Continuando...
Mini-sismos, chuvas torrenciais que fazem com que cão e gato deêm a mão; ou melhor, a pata (sabem vocês muito bem a quem me refiro!)
Dia da Mulher e, o melhor de tudo, o desvanecimento de um 11 que realça outro: são eles, o FCP e a distância pontual a que se encontra do glorioso.
Para os mais superticiosos, com certeza, é o fim do mundo.
Para os portistas, aposto, o fim do mundo é!
... e o mundo que só acaba em 2012.
O facto é que, contra superticiosos, não há argumentos.

O Pitt

terça-feira, 2 de março de 2010

Gira-discos #16

... porque o miúdo diz tudo.

Pitt

segunda-feira, 1 de março de 2010

do espinoza #12

O professor, meu colega


Há dias conheci um cardiologista que, na sua maneira humilde e muito mais experiente, acolheu-me no seu consultório. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Eu andava muito curioso para o conhecer, não só pelo motivo que na altura me empurrou para a busca de uma opinião sobre o estado da engrenagem cardíaca do meu corpo, mas também porque, aconselhado por médicos amigos, este era um cardiologista daqueles que não se esquecem.
- Mas que raio - disse eu na altura - não se esquece porque ele é um dos bons ou um dos maus?
- Logo verás, mas vais achar piada ao professor.
Professor? Mas se o homem nem sequer dá aulas em algum sítio - soube eu depois - como diabo é que o sujeito era apelidado de tal? É que nem era doutor ou outro ilustre e pavoneante cognome, era conhecido por professor e mais nada.
Estive pouco mais de uma hora dentro do consultório.
Quando saí vinha com o sorriso iluminado. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). No tempo que estive lá dentro, devo ter apanhado com o melhor comunicador de área médica que já tive oportunidade de conhecer. Nem me atrevi a confessar-lhe que era seu colega de profissão. Deixei-o falar. Explicou e dissertou sobre o coração e o sistema circulatório como nunca vi. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Tinha-me na mão como um puto a olhar para uma caixa de legos e sem fazer ideia nenhuma como montar tudo. E ele montou tudo. Eu ia acenando afirmativamente. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Mandou fazer as devidas análises e procedimentos. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Voltei ao consultório a segunda vez para discussão dos resultados. Nunca lhe contei que era médico também. Nova dissertação e comunicação a roçar a perfeição. Ao sair apertou-me a mão e confidenciou:
- Se quer que lhe diga, meu caro, Hermenegildo nem é um nome assim tão mau. Um dia ainda se vai aperceber disso. Devo-lhe confessar que penso que Hermenegildo até é um nome que cai muito bem num médico.
E fui-me embora.
Como é que anda a minha engrenagem cardíaca? Está tudo bem, não se apoquente, foi o que me disse o professor.




Hermenegildo Espinoza