segunda-feira, 1 de março de 2010

do espinoza #12

O professor, meu colega


Há dias conheci um cardiologista que, na sua maneira humilde e muito mais experiente, acolheu-me no seu consultório. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Eu andava muito curioso para o conhecer, não só pelo motivo que na altura me empurrou para a busca de uma opinião sobre o estado da engrenagem cardíaca do meu corpo, mas também porque, aconselhado por médicos amigos, este era um cardiologista daqueles que não se esquecem.
- Mas que raio - disse eu na altura - não se esquece porque ele é um dos bons ou um dos maus?
- Logo verás, mas vais achar piada ao professor.
Professor? Mas se o homem nem sequer dá aulas em algum sítio - soube eu depois - como diabo é que o sujeito era apelidado de tal? É que nem era doutor ou outro ilustre e pavoneante cognome, era conhecido por professor e mais nada.
Estive pouco mais de uma hora dentro do consultório.
Quando saí vinha com o sorriso iluminado. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). No tempo que estive lá dentro, devo ter apanhado com o melhor comunicador de área médica que já tive oportunidade de conhecer. Nem me atrevi a confessar-lhe que era seu colega de profissão. Deixei-o falar. Explicou e dissertou sobre o coração e o sistema circulatório como nunca vi. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Tinha-me na mão como um puto a olhar para uma caixa de legos e sem fazer ideia nenhuma como montar tudo. E ele montou tudo. Eu ia acenando afirmativamente. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Mandou fazer as devidas análises e procedimentos. (Não se apoquentem, está tudo bem com a minha máquina). Voltei ao consultório a segunda vez para discussão dos resultados. Nunca lhe contei que era médico também. Nova dissertação e comunicação a roçar a perfeição. Ao sair apertou-me a mão e confidenciou:
- Se quer que lhe diga, meu caro, Hermenegildo nem é um nome assim tão mau. Um dia ainda se vai aperceber disso. Devo-lhe confessar que penso que Hermenegildo até é um nome que cai muito bem num médico.
E fui-me embora.
Como é que anda a minha engrenagem cardíaca? Está tudo bem, não se apoquente, foi o que me disse o professor.




Hermenegildo Espinoza

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