The Killers - Happy Birthday Guadalupe!
Fernando Pessoa, ou melhor, Álvaro de Campos (que me perdoe Pessoa a troca inicial de identidades entre homens tão distintos, o mesmo se aplicando ao senhor engenheiro Campos) escreveu, em 1931, um poema magnífico, chamado Oxfordshire, que termina assim: «É-se feliz na Austrália, desde que lá se não vá.» Por um lado, é um fecho tão simples mas ao mesmo tão entricheirado para o poema, algo que se nota tão ao de longe, mesmo para míopes, prebíopes ou para gente portadora de cataratas mentais, com nevoeiros cerrados a empobrecer o raciocínio, quer por preguiça, quer por teimosia. Por outro, olhando para nós, fazendo da nossa epiderme o nosso próprio espelho (uma espécie de queratina com poder de reflexão), resta-nos interrogar se, da mesma maneira que podemos ser felizes na Austrália desde que nunca lá punhamos os pés, se não temos sido, ou vamos sendo, felizes em lugares onde não estamos, onde nem sequer um dia iremos estar. Felizes a pensar o que hipoteticamente seremos, a que futuro nos levará o passado que ainda há momentos era presente. Eu sei que é chato falar disto, mas não sei falar de mais nada a não ser de dúvidas, tudo são dúvidas, mesmo a alegria de pensar ou a expectativa de pensar que posso ser alegre a pensar. Será que posso ser feliz desde que nunca me ponha dentro de mim mesmo? São questões essenciais para ruborizar até mesmo o senhor de la Palisse. Dá vontade de cantarolar, a descoberto de qualquer fachada: estar à espera ou procurar?
Nunca estive em Guadalupe, mas posso garantir que seria muito feliz por lá.
Hermenegildo Espinoza
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