sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Gira-discos #12

... para que tenham uma noite boémia e rapsódica, deixo-vos com uma versão Marreta dos Queen: "Bohemian rhapsody"



e caso a "mamma!!" não responda, esqueçam o "daddy".


Pitt

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

entre escassas linhas #5

...juntem-se dois corpos, heteros,
numa cama.
Se necessário
...impregne-se etanol aos corpos.
Caso isto não baste
...tire-se-lhes a roupa e... "foi uma vez, uma noite".

Porém,
Se coexistir com com os dois corpos, heteros, numa cama,
apenas uma alma. Dois corpos, uma alma!
Se coexistir com a impregnação alcoólica,
apenas uma vida, a dois.
Se coexistir com o despir das roupas, intimidade,
entrega, fusão...

...então, "o momento não caberá no tempo".


Individualidade partilhada, ou dualidade unificada?
Irrelevante, se se tratarem de dois corpos, uma alma!


Pitt

domingo, 22 de novembro de 2009

Resultados da sondagem...


Através de uma atitude democrática, o Clube dos Médicos Malditos deu a oportunidade aos seus leitores de votar, numa sondagem que questionava se era a Prof. Corália que aparecia no vídeo de homenagem ao Prof. Nuno Grande...
O povo votou, e como tal escolheu: Sim, definitivamente! Com 54% dos votos, esta maioria absoluta é prova viva que é realmente a Professora Corália! Venha quem vier, esta ideia ninguém nos tira!

Só mais uma coisa: estes últimos anos fizeram-lhe muito bem!...

Sem mais nada de momento,

Saudações Malditas!


Ubirajara Piatã©

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Leituras & Remédios #7



"(...)
Disse uma vez a uma mulher:«Não creio que possa envelhecer contigo, mas gostaria de ter um filho teu antes de nos separarmos.»Tratava-se de uma enorme declaração de amor, mas a minha sinceridade não comoveu o âmago da minha amada; fez as malas e pôs-se na alheta no dia seguinte. Essa santa tentara durante três anos converter-me à conjugalidade. Deixava o seu shampoo esquecido na minha banheira. Eu devolvia-lho, com um grande sorriso, no encontro seguinte. Pedia-me licença para arrumar uma blusa extra no meu roupeiro. Uma ocasião disse-me:
- Eu sei que, lá bem no fundo, tu precisas muito do meu amor...
Eu respondi-lhe com os confortáveis estereótipos do teu discurso, mestra definitiva - e ainda nem te conhecia:
- Os homens-que-lá-bem-no-fundo são um truque de ilusionismo que as mulheres inventaram para poderem continuar a ser vítimas sem ofender as conquistas da sociedade contemporânea.
(...)"


página 47 (negrito conforme original)


"(...)
Ando à caça de palavras resplandescentes, tropeço nelas dentro e fora da vida, interpreto, magoo-me, interpreto outra vez, sujo-me, borro a pintura da cara que não tenho, das caras que fui desenhando sobre a cara que me faltou - mas ah, os jovens, nunca. Nunca soube o que eram «os jovens», nunca soube o que era «o meu tempo».
(...)"

página 51


"(...)
Tu nunca tinhas frio e achavas que tiritar era um sintoma de fraqueza espiritual. Desprezavas casacos e abafos. Nunca estiveste doente. Gostavas de mergulhar em ondas frias, a tua voz soava com a força do próprio mar. Perto da tua campa ainda fresca, o epitáfio de um homem que devia ser eu. «Aqui jaz alguém que nunca quis morrer, que teve a sorte de nascer homem, não Deus.»"

página 152


"(...)
O que importa não é o enredo, a forma, nem sequer a cor. O que importa é a circulação conjunta de um corpo e de uma alma em torno do despojado sedimento da sua verdade."

página 236


"(...)
- Cuidado, Sininho. Corre!
(...)
Haverá um cheiro a juventude perdida nesse relvado, há sempre um cheiro que só se descobre depois na relva molhada. Mas já não me lembro como era, fica longe, longe, cada vez mais longe."


página 239



Inês Pedrosa
Fazes-me Falta

edição de bolso Booket
págs: 239

(a leitura como um dos melhores remédios. como pode a morte separar uma ligação tão intensa entre duas pessoas? contar uma história a dois. chora quem fica, chora quem foi. sorriem os dois. há uma falta indelével. e as simbioses ad aeternum)

fotografia da autoria de Hermenegildo Espinoza


Hermenegildo Espinoza

sábado, 14 de novembro de 2009

Exclamação!

Cegos. Repito, cegos. Juntem-lhe uma causa, mas teremos sempre o mesmo fim.
Congratula-mo-nos e damos graças pela visão, ou então nem pensamos nisso porque a Natureza do ser humano não é a de "boa, acertei dez em vinte" mas a de "porra, falhei dez em vinte!". Pergunto, será que sabemos usar os olhos de facto? Pois bem, agora adivinhem onde quero chegar, tal como o cego tacteia o escuro em busca de um caminho. Quando descobrirem, perceberão que estar de olhos fechados pode ensinar a andar de olhos abertos.
Ao que se constata, os tempos mudaram. Abandono dia a dia o tom jovial e o patriotismo heróico de outros tempos para materializar o genocídio espiritual e a fraca carne do que é viver hoje - Ò Poeta, esse Quinto Império, esse que outrora esboçavas por entre linhas incertas e uma determinação colossal, há muito que foi derrotado, não pela falta da elite culta e civilizada que espreita a esquina, mas pela prosperidade de uma anarquia de estilos variados mas todos eles igualmente ateus à cultura e boas maneiras.
E se algum dia alguém disse "Eu tenho um sonho", eu volto a dizê-lo: Eu tenho um sonho. Sonho com o dia em que a geração de hoje deixe de dividir águas e passe a amenizar a terra, sonho com o dia em que formigas da mesma colónia deixem de fomentar revoltas pelas palavras aleatoriamente (em sujeito e conteúdo) cuspidas como veneno de cobra. Sonho, mas não caio na ilusão de crer em milagres. Porque afinal, quando no dia seguinte acordar, tudo estará na mesma e os mudos e surdos não deixarão de o ser, nem mesmo os fala-baratos e cuscos passarão a mudos ou surdos; já me tinham falado no ciclo fútil e vil da vida, mas ainda não me tinham dito que era tão entropicamente favorável.
E o pior. O pior... É estar-se numa eterna puberdade, numa idade do armário na qual estagnamos, sem fome de mais nem sácia de menos, nem ter massa cinzenta para entender implicações, responsabilidade e noção do ridículo.
Isto aprendi eu nos primeiros anos de vida, outrora, não agora.

Derrotado,

Bachiatari Sensei

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Gira-discos #11

New Order - Ceremony

Uma adolescência acompanhada por Joy Division acaba sempre por nos entricheirar entre a rebeldia e o sonho. Ouvimos o baixo, a guitarra, a bateria a pedalar nos nossos ouvidos e aquelas palavras melódicas da voz dura e profunda do Ian Curtis e achamo-nos donos de um estrebuchar de adrenalina subindo-nos pelo corpo. Quantas vezes não amplificamos a música no quarto, colocamo-nos em frente ao espelho e berramos surdamente contra ele, contra a nossa imagem? Quantas vezes não insuflamos a jugular no pescoço, enervados com o mundo e com a cerimónia que nos desampara? Tudo dentro do quarto, alheios ao mundo e ao sagrado no sentido humano.
Lembro-me, pois, da primeira vez que ouvi o Ian Curtis na solidão do meu quarto, muito depois do seu suicídio e do surgimento dos New Order. E, admito, custava-me a crer que alguém com aquela voz, aquele potencial, tivesse sucumbido à epilepsia do mundo, mergulhado no fundo da depressão com tanto do divino da vida por experimentar. Entretanto, não deve ter morrido de certeza. Andamos nós a falar dele e, como bem se sabe, só morremos quando morrem as últimas pessoas que ouviram falar de nós. Vamo-nos tatuando na matéria envolvente. Foi o que fizeram os New Order que, para começar, não deixaram morrer uma das últimas músicas escritas pelo Ian Curtis. Música essa que se chama - digo-o com um sorriso - Ceremony e que, se olharem para mim podem não notar, mas está impressa debaixo de toda a minha pele:

This is why events unnerve me,
They find it all, a different story,
Notice whom for wheels are turning,
Turn again and turn towards this time,
All she ask's the strength to hold me,
Then again the same old story,
World will travel, oh so quickly,
Travel first and lean towards this time.

Oh, I'll break them down, no mercy shown,
Heaven knows, it's got to be this time,
Watching her, these things she said,
The times she cried,
Too frail to wake this time.

Oh I'll break them down, no mercy shown
Heaven knows, it's got to be this time,
Avenues all lined with trees,
Picture me and then you start watching,
Watching forever, forever,
Watching love grow, forever,
Letting me know, forever.



Hermenegildo Espinoza

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

do espinoza #10

Lembro-me do barulho áspero das gaivotas aos círculos sobre a minha cabeça. Lembro-me da Reitoria sombria a pingar nas sombras e do eléctrico a cavalgar os carris como a fricção dos dedos pelo frio. Lembro-me da espessura das ruelas do Porto, lembro-me das capas negras e das comissuras dos lábios das raparigas de cabelos soltos. Queria da vida um istmo, uma passagem para o lado de lá da estrada, para os pavimentos nivelados pelo nosso andar. Lembro-me de não haver inclinações, da calçada rectilínea e da fachada manchada do egrégio Hospital de Santo António. Relembro as comissuras dos lábios das raparigas trajadas. Lembro-me de fechar as mãos como um tubo, de sentir a ponta dos dedos como um epitélio de transição para algo maior. Com o tempo sabemos que haverá uma hora em que o comprimento do nosso corpo ultrapassará o comprimento da calçada, pois somos a soma dos nossos dias e dos dedos daqueles que nos tocaram. Lembro-me da minha primeira namorada descer as escadas do instituto, nunca esquecerei o seu sulco naso-geniano: o mais perfeito que encontrei. Depois dela se subtrair à minha vida, de me ter encurtado a distância na calçada, jamais voltei a olhar para outros sulcos naso-genianos. Só as comissuras dos lábios. Lembro-me de só querer subir as escadas e ir para o átrio do instituto. Lembro-me do cheiro, tão entranhado que está na pele e no hipocampo. Lembro-me de não querer mais nada na vida. Acabo desde aí os dias tentando medir a minha distância na calçada. Coloco um pé na sola da entrada da Lello e vislumbro ao fundo o castanho do instituto. Tento avançar com a outra perna e verificar se chego até à fachada do Santo António. Tenho a perna curta, mas aos poucos irei lá.




Hermenegildo Espinoza

domingo, 8 de novembro de 2009

entre escassas linhas #4

...era uma vez um gajo
(uma passa)

que
(outra passa)

não sabia
(e outra, e outra e mais outra!!!!)

que o mundo...
(acabou-se o café!)


Pitt

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Taras e Manias"



... caros leitores!



Há dias em que o sono é pouco, mas também os há aqueles em que ele se faz sentir demais. Sobretudo nesta altura, a época do ano em que supostamente pouco se estuda. Ou quando supostamente se devia ter sono e não se tem.



No entanto, a verdade é esta: existem sempre bons e maus resultados. Até arriscaria a dizer que bem descritos por uma rechonchudinha curva de Gauss. Paradóxico é o usar-se a mesma desculpa para justificar os dois extremos. "Correu-me mal... mas também estudei pouco". Ou entao, "Correu melhor do que esperava, e isso que não estudei quase nada!" Na verdade, quando penso nisto lembro-me sempre da história do Marco Paulo: ninguém ouve as suas músicas, mas ele tem discos de ouro e de platina. Enfim... Taras e Manias minhas.


Talvez tente a clássica técnica de contar ovelhas. Afinal de contas, o Mr. Bean não é só comediante...




Pitt

terça-feira, 3 de novembro de 2009

entre escassas linhas #3

...era uma vez Deus e o Diabo. Era uma vez um espaço com limites, restrito, que nasceu para ser isso, um sítio.
Era uma vez pessoas que viviam nesse lugar. Era uma vez o homem e a mulher.

Foi-se a mulher. Era uma vez um homem.
Perdeu-se o homem, era uma vez um lugar.
Germinado um não lugar, era uma vez Deus.

Ora, na ausência de um Deus, para que temer o Diabo?

Porra!!!!


Pitt