"O médico disse: isto e mais aquilo indica que deve ser isto e aquilo; mas, se não se confirmar pela análise disto e daquilo, então é de supor que tenha isto e aquilo. Mas se supusermos isto e aquilo, nesse caso...e assim por diante. Para Ivan Ilitch só uma questão era importante: a sua situação era perigosa ou não? O médico ignorou essa pergunta inadequada. Do ponto de vista do médico, a pergunta era ociosa e não merecia discussão; havia apenas que ponderar as probabilidades - um rim solto, catarro crónico ou apendicite. Não estava em questão a vida de Ivan Ilitch, mas uma discussão entre rim solto e apendicite. E essa discussão resolveu-a o médico de um modo brilhante aos olhos de Ivan Ilitch em favor da apendicite, sob a reserva de que uma análise à urina podia dar novas indicações e que nesse caso o assunto seria reconsiderado. (...) Pelo resumo do médico Ivan Ilitch concluiu que estava muito mal, mas que para o médico, e talvez para todos, isso era indiferente, mas para ele era mau. "
páginas 49 (3º parágrafo) e 50.
"Durante aqueles três dias, em que o tempo não existia para ele, debateu-se naquele saco negro para o qual o empurrava uma força invisível, irresistível. Debateu-se como se debate um condenado à morte nas mãos do carrasco, sabendo que não se pode salvar; e em cada momento sentia que apesar de todos os esforços de luta estava cada vez mais perto daquilo que o horrorizava. Sentia que o seu sofrimento era também por estar a ser enfiado naquele buraco negro e ainda mais pelo facto de não conseguir entrar nele. Era impedido de entrar pela consciência de que a sua vida tinha sido boa. Era essa justificação da sua vida que o prendia e o impedia de avançar e que o atormentava mais do que tudo."
páginas 109 e 110
Lev Tolstoi,
A Morte de Ivan Ilitch, 1ª edição Booket (livros de bolso, com prefácio de António Lobo Antunes)
(a leitura como um dos melhores remédios, e deste recomenda-se uma leitura pela vida fora, até nos tornarmos pó na bruma e na escuridão. Até.)
Hermenegildo Espinoza
páginas 49 (3º parágrafo) e 50.
"Durante aqueles três dias, em que o tempo não existia para ele, debateu-se naquele saco negro para o qual o empurrava uma força invisível, irresistível. Debateu-se como se debate um condenado à morte nas mãos do carrasco, sabendo que não se pode salvar; e em cada momento sentia que apesar de todos os esforços de luta estava cada vez mais perto daquilo que o horrorizava. Sentia que o seu sofrimento era também por estar a ser enfiado naquele buraco negro e ainda mais pelo facto de não conseguir entrar nele. Era impedido de entrar pela consciência de que a sua vida tinha sido boa. Era essa justificação da sua vida que o prendia e o impedia de avançar e que o atormentava mais do que tudo."
páginas 109 e 110
Lev Tolstoi,
A Morte de Ivan Ilitch, 1ª edição Booket (livros de bolso, com prefácio de António Lobo Antunes)
(a leitura como um dos melhores remédios, e deste recomenda-se uma leitura pela vida fora, até nos tornarmos pó na bruma e na escuridão. Até.)
Hermenegildo Espinoza
Caro Espinosa
ResponderEliminarNo meu deambular pelas férias, já tive a oportunidade de ler essa grande obra do Lev Tolstoi e deixa quete diga que é uma excelente sugestão de leitura, a que fazes...
É um livro que, em poucas páginas, diz muita coisa e nos deixa a pensar em tantas outras.
Cumprimentos
Pitt
Um livro simplesmente fantastico, que nos coloca perante uma realidade que tentamos afastar, a morte! Aconselho vivamente a leitura desta grande obra do Lev Tolstoi
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