Meus Caros Malditos,
Gozava eu estas minhas férias numa futilidade não típica daquilo que é ser estudante de Medicina, até que por um momento de lucidez pensei na essência do meu ser, no meu papel perante este mundo cada vez mais desvalorizado na minha humilde opinião. Esse mesmo momento de lucidez despertou-me para a necessidade de compreender afinal o que é que eu ando a fazer, ou melhor, aquilo que vou fazer, ou seja, afinal o que é ser médico? Cada vez mais a Medicina é compreendida pela sociedade como uma profissão de prestígio, em que para entrar é necessário ser um vencedor, capaz de resistir a uma multi-selectividade, que avalia sobretudo a capacidade do nosso cérebro, e também a nossa resistência a uma situação de stress, tal como dizia numa aula de Sociologia Médica, a Professora Constança Paúl, que eu muito aprecio as suas capacidades de dialogar e o seu excelente método de avaliação. Mas pronto, deixemos isso para uma outra discussão que neste momento não se enquadra nesta questão.
Ser médico não é ter uma mera profissão, mas sobretudo uma missão, uma missão de serviço em prol do outro, ou mais concretamente, em prol da Humanidade. No entanto para que essa missão possa ser plenamente realizada é necessário que cada um de nós seja capaz de se despojar de certos banalidades que a vida actual nos propõe. É viver na radicalidade de se dar por completo ao serviço do outro. Até diria mais, olhar a nossa profissão como uma oportunidade de partilha de amor, vivendo com a ideia de que não existem doenças, mas sim doentes, cada um com a sua dignidade humana, inquebrável e vivendo cada doente na sua liberdade. Penso que todo o médico que não for capaz de satisfazer estes “pré requisitos”, chamemos-lhes assim, não sabe realmente o que é ser médico, e viverá toda a sua vida numa angústia, sentindo que seguiu um plano de vida que não o satisfaz verdadeiramente.
Era sobretudo isto que vos queria fazer reflectir, para um dia chegarmos ao final deste nosso curso, e estarmos preparados para enfrentar um mundo cada vez mais desanimador, mas sermos capazes de buscar a nossa coragem na necessidade de partilha de amor, de nos colocarmos, como dizia, ao serviço pelo outro.
Este nosso blogue, que é a nossa fuga para a libertação de pensamento, tem como objectivo isto, permitir-nos discutir a essência da Medicina, que além de uma verdadeira arte, é sobretudo a capacidade de servir os outros.
Um bem haja a Vós Todos, Malditos!
Continuação de umas excelentes férias!
Um grande abraço maldito,
Caro Ubirajara
ResponderEliminarAdmiro essa reflexão...
Vejo que te preocupas muito com o papel que irás encarnar no futuro. Isso é bom, hás-de ser grande.
Continua assim...
Quanto às férias: obrigado e disfruta-as por completo.
Abraço
Pitt
Tudo muito bem dito, camarada Ubirajara.
ResponderEliminarEm breve nos vamos reencontrar, de volta às inspiradoras conversas e às discussões que, felizmente, acabam muitas vezes num sorriso. Até lá, meus inevitáveis amigos dos vários caminhos a percorrer, resta-nos retemperar o ego.
Abraço,
Espinoza