domingo, 21 de junho de 2009

Bachiatari Sensei #6

Voltei.
Sinto o espirito mais leve e uma nova chama acesa no horizonte. Quero com isto dizer que a erradicação desse Alter Ego teve consequências profundas e a primeira, anuncio já: Renunciei aos princípios que achava que tornavam um mortal diferente - toda uma doutrina secular de espiríto e corpo. Já não ouço o vento, nem me preocupo com palpitações de karma. Sou, digamos, mais um.
Segunda nota na ordem no do dia : definitivamente abandono o meu convento nepalês, e instalo-me num pequeno apartamento, T1, partilhado por um jovem que procurava dividir a despesa de aluguer, pequeno, mas cómodo, instalado no coração invícto desta cidade nunca conquistada pelas tropas francesas napoleónicas. Marquês, Faria Guimarães, por lá ficará. Como velho que sou, mas monge que deixei de ser, passo do hábito ao fato, pelo que a seu tempo actualizarei devidamente este meu retrato.
Palavras movidas por uma doutrina que deixei de ter deixarão de existir, dando lugar a uma cantoria de "pobre ceifeiro", já dizia o poeta. O lugar budista será preenchido pela epopeia camoniana e os sabres afiados pelo frio laminar de bisturis.
"- Porquê tanta mudança, Bachiatari?" - perguntarão alguns de vós. E eu vos digo que para erradicar um maldito espiríto e conservar um espiríto maldito são precisas mudanças, é preciso o enterro de velhos ideias e o corte de laços com velhas batalhas.
Convosco aprendi Malditos, de cada um de vós tirarei um pedaço com que reconstruirei o meu espiríto - do perscutador do vento Ubirajara, tirarei a calma e a comunhão com os outros, do eloquente Pataca tirarei as palavras sábias e trabalhadas, desse Pitt italiano a organização e a atenção ao que me rodeia, de ti, Espinoza, a modéstia e a espontaneidade vividas e do Cluni a sempre presença e versatilidade de personagem.
Mais que nunca, por esta casa que me acolhe tenho empenho. Sujarei as mãos se necessário com o cimento que erguerá os constantes pisos deste arranha-céus.
Porque a minha identidade tem que ser mantida em segredo me despeço. Dormir no lugar comum do apartamento parece que tira a privacidade às pessoas. Melhores dias virão. Vou ver um filme.

Bachiatari Sensei*

*Conservo o Mestre em meu nome como a presença irónica daquele que, ao fim de contas, é o eterno discípulo do destino invasivo e intemporal.

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