domingo, 21 de junho de 2009

do espinoza #5

Ou do horizonte castanho


Muitos aninhos passados dentro da bolha de protecção da família e um certo desprezo pelas multidões tornaram-me num inapto social, o senhor Darwin há bastante tempo o vaticinou: a selecção natural vai cedo ou tarde pontapear-me borda fora, não vejo que fêmea se arriscará a prolongar o fundo genético deste macho portuense por muito mais tempo (parece isto um dos cativantes e bem elaborados classificados de terceira categoria do 24horas). De qualquer maneira, sempre tive uma posição pessimista na vida, para quem ainda não notou, se bem que gosto de me classificar, citando um autor português ali para os lados de Lanzarote (que até é nome de gato maldito), como um optimista bem informado. Pois bem, isto tudo para dizer o quê? Nos últimos tempos, familiares e amigos martelam-me nos tímpanos “ epá Espinoza, tens de erguer mais a cabeça” ou “ tens de arrebitar” ou ainda “ ó Espinoza, valha-me deus, tens de olhar mais para o horizonte!”.
Pois bem, aqui o Espinoza fartou-se de tanto conselho e decidiu arriscar. Dez e meia da manhã, saio de casa, paro, encho o peito de ar, faço um trejeito com os lábios tentando horrivelmente dar uma expressão sensual, expansiva, alongo os ombros que nem um fanfarrão e parto à conquista, cabeça erguida olhando para o horizonte. Menos de dois passos depois um som indicativo de pisadela de substância castanha aderente conhecida mais informalmente por merda.
Decididamente, prefiro ser um pessimista.




Hermenegildo Espinoza

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