terça-feira, 31 de julho de 2012

diário de bordo

dia 2 - "stardust/ bloom"

"- Mãe!! Ah mãe! Ai, ai... Uh, uh, uh, feeeeeeeeeeeiu!
- Tem calma! Conta-me o que é que se passa. O que é que mandaste?
- Não sei, não sei, NÃO SEI! Comprei dois sacos, experimentei um coisinha e não senti nada. Mandei tudo!
- Não sabes!? Heroína? (...)
- ... metadona! metadona! ai... não tem água p'ra beber? Ahhhhh! Estou 20% hidratado! O meu dedo 'tá a cair, ai! Mãe!!!! Olhe, o meu dedo... Ufhhh!
(...)
- Agora é que 'tá a bater! Uai...
- Onde é que posso picar?
(...)"

bastou içar a âncora e soltar as amarras, para que com a corrente e com o sol nascente viesse este náufrago, o náufrago 1, qual rum com o seu pirata. não haviam ventos dispnéicos, ondas edematosas, trovoadas torácicas, temperaturas piréticas, nem destroços corporais. aparentemente, apenas um céu estrelado, "luzes campimétricas a brilhar bitemporalmente".
digo, por minha justiça, que este cintilar bitemporal era estranho. nunca tal se viu. estrelas nos dois tempos do ciclo circadiano, na noite e no dia.

só o naufrago vivia esta experiência. só o náufrago tinha rum. o rum chama-se stardust. era novo, o rum. assim como a experiência, a dele e a minha. e a sua verdade, para mim.

alguns segundos com o naufrago 1 a bordo e ouviu-se um grito distante:

"- Vem aí outro!" desta vez bloom, qual pirata com o seu rum.

pitt

segunda-feira, 30 de julho de 2012

diário de bordo

dia 1 - "Levanta-te e rema"

depois das estereotipadas apresentações, conheci, de nascente a poente, os corredores dos dias que aí vêm, como novo marujo que se começa a ambientar, da proa à popa, aos cantos do barco.
"estão aqui os kits de gasimetria". expressão tão trivial que pode moldar. fez-me Lázaro por momentos, pois soou a "Levanta-te e anda!". fez-se vento na popa.

pitt

sábado, 21 de julho de 2012

Costelas flutuantes são caravelas do mar que nunca irão atracar - apontamentos sobre a melancolia do marulhar #4

Ao longo da linha do comboio de Espinho. O mar que se quedava para lá da areia. O olhar transversal aos raios de sol que se espraiavam pelo vidro da janela. A cadência do movimento uniforme da carruagem. As mãos dadas enquanto o teu rosto caído no meu peito. Ouviam-se o mar e a percussão veraneante de cada sístole, no ir e no voltar.



Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Costelas flutuantes são caravelas do mar que nunca irão atracar - apontamentos sobre a melancolia do marulhar #3

O calor a espalhar-se na pele, o sal, trazido pelo vento, a depositar-se nos poros. Os lábios dela secos, salgados, de qualquer maneira bonitos. Contornámos a rebentação das ondas, de mãos dadas. Os amigos ficaram para trás, na galhofa. A praia inclinava-se sobre o mar, o amor inclinava-se sobre a paisagem. Pedi-lhe para se sentar. Tirei-lhe uma fotografia. O vento matreiro, apanhando o vestido estival desprevenido, deixava à mostra as coxas, as pernas e os pés. Lembro-me de o mar se manifestar. Naquele pôr-do-sol, não esqueço nem o marulhar nem as pernas dela.



Hermenegildo Espinoza

sábado, 14 de julho de 2012

Costelas flutuantes são caravelas do mar que nunca irão atracar - apontamentos sobre a melancolia do marulhar #2

Os pés na areia. O pé cavo, o pé plano. A escultura do arco plantar tão breve quanto o intervalo de uma onda. O mar está velho para voltar, dizia a avó, para chatear. O mar tem ido sempre, e sempre, até hoje, tem regressado.



Hermenegildo Espinoza

Pessoas

Impressiona. A famosa arca com inéditos de Fernando Pessoa, afinal, são duas. Há material, escrito em três línguas diferentes, em qualquer tipo de papel, a lápis, caneta ou dactilografado, dos vários heterónimos ou sobre outros temas, suficiente para estudo, investigação e publicação nos próximos cinquenta anos. Para ouvir na Rádio Renascença, uma conversa com investigadores pessoanos, todos eles estrangeiros que se apaixonaram por Pessoa e pela língua portuguesa.


Hermenegildo Espinoza

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Costelas flutuantes são caravelas do mar que nunca irão atracar - apontamentos sobre a melancolia do marulhar #1

Relembro-me de uma parte da topografia interior. Dentro do apartamento, jaz um búzio numa das prateleiras da estante dos livros de língua portuguesa. Pego nele desinteressadamente. Acomodo-o junto ao ouvido. O mar evoca, subindo por uma estrada em caracol, a potencialidade da vida. A minha vida. Pouso o búzio. No ir e no voltar, resgatando os fragmentos, o marulhar consolida a memória.




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Shakira, o reforço positivo

Um mês no Claustro 'Europeu Polónia/Ucrânia' não é suficiente para que o estímulo perca o seu efeito.

"El piquetón de Piqué" e um ponto mais para Pavlov!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Gira-discos #43




I say you are the most exotic flower.




Hermenegildo Espinoza

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Não reconhecer rostos






Prosopagnosia, incapacidade de reconhecer rostos. Sem a memória de um rosto, um traço prontamente diferenciador de cada um, como é que nos podemos relacionar? Como pode isso afectar a ideia da amizade ou do amor sem a correspondência de uma cara? E qual o papel do cérebro nesta capacidade aparentemente simples mas que resulta de um complexo mecanismo de associação de funções superiores?

Vídeos retirados de uma reportagem do programa 60 Minutes, da CBS.




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Revolução Cardíaca (4)

- Precisas assim tão desenfreadamente de chegar a casa, todos os dias, e explodires com a bateria?
- Claro. Necessito da percussão para me manter vivo. Para restabelecer o meu ritmo sinusal. Só consigo viver a vida em taquicardia.




Hermenegildo Espinoza