49. o homem que queria morrer sossegado.
O homem que queria morrer sossegado
pediu-me, inquieto,
que o deixasse morrer sossegado,
enquanto houvesse tempo bastante
para que a morte matreira
não se lembrasse por fim
de o vir buscar à pressa.
O cientista em mim inquietou-se
nas palavras inquietas e tão tristes
do homem que queria morrer sossegado,
mas o médico em mim só descobriu o sossego
quando firme apoiou a mão na mão fraca
do homem que queria morrer sossegado
e garantiu-lhe que não o deixaria morrer inquieto.
O homem que queria morrer sossegado
acabou por não conhecer a inquietação na morte,
enquanto o cientista em mim conheceu amargurado
todos os precipícios da morte que olhava pelos olhos
do médico que em mim fechava em sossego
os olhos do homem que morreu sossegado.
Hermenegildo Espinoza
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