Amanhã, por volta da meia-noite, rotineiramente, pegarei numa cadeira da cozinha, ficarei sentado na quietude da noite da varanda, um copo de vinho do Porto no regaço, com o leitor de mp3 escondido no roupão azul e, mesmo antes do primeiro rebentar do fogo, carregarei no play, só para que novo ano não me apanhe desprevenido na corrida dos anos, enquanto vou dedilhando no ar as notas de um piano etéreo, acompanhado pela orquestra dos meus gatos. Depois arranharei a barba - dizem as más-línguas - idêntica à que o Paul McCartney exibia quando, em 1970, já a separação habitava os olhos deles os quatro. Para já, não revejo na minha barba qualquer premonição. Deixai-a sosegada. Bom ano.
Hermenegildo Espinoza
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