Hermenegildo Espinoza
B Fachada - Setembro
Vim dar um passeio para o sul do país / Tomai uma valsa para depurar as miudezas e os safados actos de férias. Se essa comunhão de espírito, noves fora, restar, prossiga a dança / Deixei-te em Lisboa, mas não porque quis / Tudo quanto há do mercúrio dos termómetros a escoar pela razia do regresso / Saber que te soa esta valsa que eu fiz, há-de ser coisa boa, sou eu quem to diz, mandei vir o saber de Paris / E a letra, os acordes, o tímpano de quem ouve com ouvidos de ver, e só a música resta, só os nossos passos compassados, num padrão cirúrgico, a memória na convalescença a repetir, a repetir, a repetir...
Escrevi-te uma carta de coisas de amar
Se não for entregue, não me vou desculpar
Porque o dom que consegue esta valsa a soar
Não és tu quem mo negue, não, nem quando eu voltar
Quando abrires os teus braços, nada disto já vai importar
E quando o sonho saciar vou fazer de tudo para acordar
Às vezes eu sinto uns fantasmas por perto
Ao entardecer e com o meu rulfo aberto
Faço para te prender esta valsa que é certo
Mais que para te vencer, é para ver se desperto
Lembras-me em todas as coisas de cá
E a cada passo eu me passo para lá
Mas então o que eu faço é valsar isto em fá
Para te ter num abraço que Vénus não dá
Quando o verão acabar e nós dois for só tudo o que há
E o Verão acaba, o Setembro cresce, e a rotina citadina desperta - e rima - com o prazer da (re)descoberta.
(Acaba a música, a valsa continua, nós dançamos)
Hermenegildo Espinoza