Vim à varanda na esperança de que o ar tépido de início de Setembro me trouxesse um soporífero, algo confortável que deixasse a fadiga fazer o seu trabalho de conduzir o meu cérebro à regeneradora resposta: o sono. Quieto na varanda, o som do trânsito, das pessoas noctívagas que neste preciso momento iniciam a procissão aos bares e ao seu quotidiano nocturno, perfilam-me várias sensações de banalidade.
(Espinoza, deixa-te desses pensamentos de agonia auto-consciente)
Uma festa de fumo a esvoaçar pelos lancis da calçada. Pares de namorados, pares de concorrentes a namorados, loucura de noites sós, para onde vão os desejos sussurrados antes do raiar do dia?
(Espinoza, há festa na moradia, mas também há festa nessa cabeça de miúdo-dos-porquês)
Ver os jovens burgueses aumentar o capital da futilidade, escarrar para o lado enquanto se afia o dente para a febra mais perto, há mulheres - mulheres, sim -, que metem mais medo que muitos selvagens homens, e onde anda o nosso super-ego a rastrear inutilidades da nossa moral?
(Espinoza, a selva também cresce na cidade, ou julgavas que a humanidade era um manual protegido nos museus que ninguém visita?)
A persiana - ou adufa, o dicionário diz-nos que também se pode designar por adufa - encerram a radiação vampírica de quem, lá em baixo, suga o amplexo gaseificado dos becos sem saída, e eu escrevo, eu não sei quem, eu, o Espinoza, a pessoa que o Espinoza julga ser, aquele que o Espinoza não sabe quem é, outro que se julga o Espinoza, um guarda-livros chamado Bernardo Soares que, para viver desassossegado, encorpora todos os homens fracos de decisão e prolixos de imaginação, quem é quem, é a pergunta que devo fazer?
(Espinoza, faz como os gatos e não te questiones, acabarás por ronronar no fim também)
E este desamor forçado da minha chegada ao cansaço do dia, quando por fim tudo instila em mim uma lápide a pedir desculpa aos outros meus que não se manifestaram, um arrepio de árvores alvoraçadas, e as pálpebras que lamentam, as pálpebras que se sucedem, as pálpebras que nos convencem, as pálpebras que enfim caem,
(Dorme, amigo Espinoza, dorme)
Hermenegildo Espinoza
Uma festa de fumo a esvoaçar pelos lancis da calçada. Pares de namorados, pares de concorrentes a namorados, loucura de noites sós, para onde vão os desejos sussurrados antes do raiar do dia?
(Espinoza, há festa na moradia, mas também há festa nessa cabeça de miúdo-dos-porquês)
Ver os jovens burgueses aumentar o capital da futilidade, escarrar para o lado enquanto se afia o dente para a febra mais perto, há mulheres - mulheres, sim -, que metem mais medo que muitos selvagens homens, e onde anda o nosso super-ego a rastrear inutilidades da nossa moral?
(Espinoza, a selva também cresce na cidade, ou julgavas que a humanidade era um manual protegido nos museus que ninguém visita?)
A persiana - ou adufa, o dicionário diz-nos que também se pode designar por adufa - encerram a radiação vampírica de quem, lá em baixo, suga o amplexo gaseificado dos becos sem saída, e eu escrevo, eu não sei quem, eu, o Espinoza, a pessoa que o Espinoza julga ser, aquele que o Espinoza não sabe quem é, outro que se julga o Espinoza, um guarda-livros chamado Bernardo Soares que, para viver desassossegado, encorpora todos os homens fracos de decisão e prolixos de imaginação, quem é quem, é a pergunta que devo fazer?
(Espinoza, faz como os gatos e não te questiones, acabarás por ronronar no fim também)
E este desamor forçado da minha chegada ao cansaço do dia, quando por fim tudo instila em mim uma lápide a pedir desculpa aos outros meus que não se manifestaram, um arrepio de árvores alvoraçadas, e as pálpebras que lamentam, as pálpebras que se sucedem, as pálpebras que nos convencem, as pálpebras que enfim caem,
(Dorme, amigo Espinoza, dorme)
Hermenegildo Espinoza
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