sexta-feira, 28 de maio de 2010

Imagiologia (quase) médica #10


Resposta fisiológica ao amor & outras coisas.




Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 25 de maio de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #8

8. a retina é muitas vezes um coração também.


Se és a mãe do mundo e arredores eu não sei,
tenho-te espiado a partir para o teu destino,
sempre de frente para ti ao longo do cais
sempre pasmado nos nossos olhares cruzados.
E ali no chão plano em reflexão
vêm razões de retina necessitada da tua imagem.
Se algum dia os nossos carris se irão cruzar,
muita lei da física há ainda para contrariar,
pois se nos movimentamos em sentidos opostos,
só um movimento de circum-navegação nos irá juntar
em algum ponto do mapa que não vale a pena assinalar.

E se educamos muito a retina, cones e bastonetes,
à adoração de uma só e repetida imagem,
passam os olhos a ter sentimentos,
palpitações, arritmias, habituações,
e se há acaso dos meus olhos de ti se ausentarem,
tenho anginas palpebrais, enfarte de visões
e entre a visão e o coração estala o sermão
de decidir qual deles é dos amores o patrão.

E assim muitas vezes andamos,
tu no outro lado do cais,
eu quase sempre de pupilas dilatadas.





Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 18 de maio de 2010

Como andam os discos a girar

Pensava eu, até há uns dias, que este era o álbum do ano



mas, afinal, é preciso reconsiderar, até porque apareceu este







Hermenegildo Espinoza

sábado, 15 de maio de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #7

7. a vida também tende por vezes a fagocitar-nos, Mechnikov.


Tempos difíceis hão-de vir,
rasgar-nos o sangue e os tecidos.
E a consciência de encarreirar em frente,
levar com a vida para futuros mitos e jejuns,
virá criar em nós o amortecimento dos letárgicos.

Porém para ti, Mechnikov, das vezes que enfim
te tentaste desvanecer e eclipsar da quietude do cosmos,
na euforia da dor ou quem sabe de outras vicissitudes,
não houve apoptose que te valesse.

Daí que viveste tempo bastante
para descrever o processo que o corpo alumia
das intempéries que nem o olho é capaz de ver.
E após mais de um século podes crer,
andamos aqui pessoas, algumas para cá,
outras mais - como tu um dia - para lá
a pensar na maneira sapiente para te agradecer.





Hermenegildo Espinoza

sexta-feira, 14 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Apontem na agenda




Este grande evento para a compreensão da beleza do mundo antropológico, passa por aqui também. É um potencial a um gira-discos de ouro.




Hermenegildo Espinoza

terça-feira, 11 de maio de 2010

Imagiologia (quase) médica #9

Se perguntarem por nós, estamos por aqui:







Hermenegildo Espinoza

sábado, 8 de maio de 2010

Do que pudemos ver no queimódromo, eram certamente pessoas de uma incomensurável índole





E das mais bonitas, verdade seja dita para quem a queira ouvir.




Hermenegildo Espinoza

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #6

6. o manúbrio e outros escudos humanos



Do comum tentar,
tentar às vezes
proteger os elementos
do nosso sangue.

Do muito pelejar,
pelejar aos poucos
e ser o escudo
contra o avanço do tanque.

Num dia a cair para a noite,
milhares de balas, milhões de anticorpos.
Desejaremos relembrar a topografia do peito
para evitar experimentar de novo a textura
de restos de pólvora a marcar a desumanidade.




Hermenegildo Espinoza

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Gira-discos #19

Animal Collective - Fireworks



Foi quase como um fogo-de-artifício nos olhos. Depois dos conjugados, das interacções intensas entre alguns, algumas moléculas ligantes a outras que, na saciedade, não hesitavam em corresponder. Foi um tempo de querer ficar parado no meio de quatro páginas de linhas e escrever todas as respostas do corpo que se defende. Mas foi quase como um fogo-de-artifício. Uns amigos banhados a ouro enquanto se percorriam as ruelas e as suas calçadas. Um barulho colectivo no ar. E não eram animais, não não eram. Encarreirados alguns como carneirinhos lá bem que iam a trotar na cadência do seu passo de tanta humilhação para vestir de negro. Os outros, já de negro talvez incorporando conscientemente o luto da sua estupidez, iam gritando para os carneirinhos. Estávamos também vestidos de negro para celebrar a comunidade que somos e novo advento que seremos. E não, não era ódio o que os nossos olhos viam. Um fogo-de-artifício, tenho a certeza. Espanta-nos a humildade de reconhecer de que ninguém é como nós, ninguém está dentro deste texto, isto não é ninguém. Uma luz no fundo daquele palco também não era nossa, mas o fogo-de-artifício nos nossos olhos era tal que se nos revelassem a verdade não acreditaríamos. O esbracejar dos dois bêbados que nos acompanhavam na dança, sem nos conhecer, era mais sincero do que os olhinhos das três raparigas bem apresentadas no grupo em frente e, a julgar pela indumentária, bem intencionadas em nos entreter. O álcool trazia-lhes, aos dois bêbados de braços irrequietos, a mesma estupidez de tantos, mas enquanto o faziam tinham mais ingenuidade do que os olhares das raparigas. O recinto é assim uma espécie de cuba para onde todos fomos deitados e onde cada alucinação não trará mais nitidez. Mas era, sim, um fogo-de-artifício nos olhos. E nunca tivemos de necessidade de perguntar: o que fazer agora? Até mesmo que os pés colados por aquela cevada fermentada e, a espaços, algum absinto que não se acomodou no antro pilórico de alguém, não nos paravam. Gritámos muito, quase sempre sem nos ouvirmos. Deu para ler nos lábios de um rapaz de óculos a declaração de amor a uma rapariga tão platónica como as tragédias gregas. A rapariga não percebeu, o rapaz de óculos não repetiu. Via-se que tinha um fogo-de-artifício nos olhos. Acabámos por acordar de manhã a trautear melodias que a noite jamais nos trouxera na euforia de clarabóias nocturnas. Rimos durante uma hora pois nada de melhor tínhamos para fazer. Notava-se que ainda andávamos com um fogo-de-artifício nos olhos.




Hermenegildo Espinoza

sábado, 1 de maio de 2010

Plano Semanal

Segunda-feira
- não morrer


Terça-feira
-não morrer


Quarta-feira
- não morrer


Quinta-feira
- não morrer


Sexta-feira
- não morrer


Sábado
- não morrer


Domingo
- não morrer e, se possível, tentar descansar a cabeça da ideia de vir a morrer




Hermenegildo Espinoza