terça-feira, 25 de maio de 2010

Possível topografia dos lugares interiores #8

8. a retina é muitas vezes um coração também.


Se és a mãe do mundo e arredores eu não sei,
tenho-te espiado a partir para o teu destino,
sempre de frente para ti ao longo do cais
sempre pasmado nos nossos olhares cruzados.
E ali no chão plano em reflexão
vêm razões de retina necessitada da tua imagem.
Se algum dia os nossos carris se irão cruzar,
muita lei da física há ainda para contrariar,
pois se nos movimentamos em sentidos opostos,
só um movimento de circum-navegação nos irá juntar
em algum ponto do mapa que não vale a pena assinalar.

E se educamos muito a retina, cones e bastonetes,
à adoração de uma só e repetida imagem,
passam os olhos a ter sentimentos,
palpitações, arritmias, habituações,
e se há acaso dos meus olhos de ti se ausentarem,
tenho anginas palpebrais, enfarte de visões
e entre a visão e o coração estala o sermão
de decidir qual deles é dos amores o patrão.

E assim muitas vezes andamos,
tu no outro lado do cais,
eu quase sempre de pupilas dilatadas.





Hermenegildo Espinoza

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