sábado, 15 de agosto de 2009

Realidade percebida #4

A inércia. O movimento do corpo subordinado a uma corrente invisível que arrasta o difuso e imaterial, sem no entanto movimentar uma massa carnal, hoje temperada por um calor de Verão amigo de bebidas frescas e ventoinhas. O conforto da poltrona substituido pelo frio azulejo do chão, bem mais sedutor. Sabe bem! Não importa a quantidade de pó, não importa quem o pisa nem com quem o partilhamos.
Depressa, absortos em ideias vagas ou simples alucinações de deserto, irrompe a poesia musical, espontânea, sem métrica nem tamanhos definidos e de rima tão livre quanto o condor.
É tarde, é noite, é o tempo que passa sem darmos por ele. Só agora me aperecebo disso, pensando bem. E o que é escrever? É divagar? Imitar? Recortar palavras caras ou bonitas e encaixá-las logicamente? É tudo, respondo. No entanto, um tudo que pode dar em nada, quando sem inspiração. Esta, por sua vez, materializando-se de um lugar inacessível à vontade, é um motor, alimentado a energia renovável ou não renovável, deixo-o ao critério de cada um - afinal somos todos diferentes -, que tem a força motriz necessária para reunir um exército,se contarmos em Kilojoules; há quem lhe chame o suco dos pensadores.
Mas não é preciso saber escrever para a expressão existir. Saber interpretar, sim. Mas não saber escrever.
Filosofia barata desbravada e posta a nú em praça pública. Coragem para aqueles que estejam desmotivados; tentativa fútil de ser inteligente, quando avaliada por Iluminados.
Um segredo: houve o tempo em que quis saber escrever. saber ser poeta, saber escrever sobre criaturas míticas e aventuras libertinas, saber ser técnico, denotando o conhecimento.
Errado. Digo-o hoje, depois de escritos textos que cumpriam esses objectivos mas não tinham a consistência necessária, a essência verdadeira de quem escreve e deposita fé nisso que faz. Tarde percebi que a escrita não obedece ao expressionismo ou à vontade. Não. A escrita flui, podendo levar ao expressionismo. De facto, a bem mais que isso.
A inspiração comanda e as ideias transmitem a essência, por sua vez montada pela veia literária, se assim lhe quisermos chamar, cuja acção é observada por uma lógica algo irracional, mas que faz crescer um fogo no peito - o sinal de que tudo vai bem. A partir daí, a escrita poderá ser ilusória, expressiva ou até abstracta. Não há espelho sob o qual vejamos o reflexo onde podemos ler em qual destes nos enquadramos; há, não obstante, um brio trazido por várias leituras, que o poderá confirmar.
Não confio nas Ninfas, essas carcaças pútridas comedoras de homens, prostitutas na sua beldade oferecida, que usam sem pudor para sugar a atenção de homens e, nos tempos que correm, mulheres também. Preferível aguardar um dia, uma semana, um ano para escrever algo de jeito. De jeito, leia-se que dê o coice na foice do cérebro acelerando de tal modo a quantidade de ideias que fluem que se torna quase impossível anotá-las a todas e organizá-las num texto coerente, aos meus olhos claro está. Dias haverão em que um simples bule de chá pareça o melhor tema do mundo, outros em que se escrevam sobre maravilhas e fenómenos. Whatever. Picasso também pintava riscos e pagavam bem por eles. Nunca o percebi, mas também não sei apreciar arte.

Sugiro bolos de gengibre para passar a noite. Fáceis de digerir e com poucas calorias. Já o dizia uma alma que não habita entre nós: "Façam o favor de serem felizes!"

Bachiatari Sensei

Relaxo na companhia do teu bom gosto musical, Espinoza. Calorosas saudações a todos vós também, restantes Malditos.

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