terça-feira, 7 de julho de 2009

do espinoza #6

Para ver o amanhecer, acordo muitas vezes no silêncio da casa e caminho até à minha pequena varanda. A cidade dorme muitas vezes sem saber da minha insónia. No prédio em frente, uma mulher insiste em partilhar esse momento de incapacidade de dormir com os meus olhos que raramente pedem companhia. Nunca lhe aceno, jamais lhe dou um sinal. Nem ela. Ainda assim, há mais de um ano que acordamos antes do mundo e vislumbramos o nascer dos dias tantas vezes sem sentidos. Como exercitar a vida? Como é possível acordarmos diariamente e levantarmo-nos da cama? Tudo isso para quê? Há uma gravidade a puxar-nos para baixo e não é inversamente proporcional ao quadrado da distância do que nos separa dos objectos ou dos corpos, mas sim inversamente proporcional ao ímpeto das vontades que carregamos. Só assim se explica o porquê de não me limitar a ficar na cama esperando que os dias passem e que a entropia acabe com a maravilha deste sistema.
São cinco e meia da manhã. Carrego uma vontade em quase tudo inócua que me levanta da cama. Na varanda do outro prédio espera-me a mulher das vigílias da alvorada. Está um bom tempo para lhe mostrar que ainda tenho músculos da mímica dignos de um sorriso franco.




Hermenegildo Espinoza

2 comentários:

  1. Estás todo romântico...

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  2. Baltasar Mateus, o Sete-Sóis8 de julho de 2009 às 12:24

    até dá vontade de fazer amor físico com a mulher do prédio em frente

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