domingo, 28 de junho de 2009

Realidade percebida #1

Custa a começar, é o que dizem. Custa a educar o inconsciente - ex-subconsciente-, custa a subordinar a sua autoridade à necessidade de trabalho cada vez mais proeminente à medida que os passos encurtam a distância que nos separa de obrigações inadiáveis. Assim, nesta ânsia diária que as últimas semanas realçam, tem-se batalhado constantemente a irreverente vontade de perscutar o som das respostas mudas que bocas dissecadas e fetos sem vida deviam dar. Os sentidos falham na fiabilidade de obter o que se procura, senão vejamos: A visão transmite uma massa confusa, os ouvidos desconcentram a mente com o murmúrio desesperado de outros, o tacto de nada serve, senão para levantar tecido dissecado e esticar tendões, superficiais ou profundos, e o paladar e o cheiro desejam-se suprimidos, invadidos pelo formol que se evapora.
O sentido de manada, de camaradagem é, no entanto, aquele que por demais é evidente - se um panica, todos panicam; se um responde, todos querem ouvir, nem que pelo sentido crítico de demonstrarem a sua sapiência adquirida e recalcada por entre Netter's e Gray's cujas páginas amassadas denunciam este inferno constrictor que aperta os corações ao som do tic-tac do relógio, segundo a segundo.
A vida diária altera-se e de repente pequenos demónios de saídas nocturnas, tornam-se angelicais cordeiros que pastam por entre mesas de estudo, por entre museus, por entre cafés, por entre transportes públicos. Aquilo que a cidade veste de preto em meses anteriores, pinta agora de livros em mochilas e braços de estudantes, dezenas, centenas, milhares deles.
Enchem-se de lamentos os vãos de escada, com a injustiça anarquista de que sofrem aqueles que auferem de menos tempo lúdico, contrastando com a realidade percebida de outros que parecem "digerir" a situação em detrimento do futuro próspero que vão pintando.

Mas o que custa é começar e é assim todos os anos.

Bachiatari Sensei

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