Ai, como entendo o Henrique! Parece que o turno não mais acaba. Ainda há pouco regozijava-me por faltar tão pouco tempo para a vingança e, agora, o tic tac do epíteto de relógio que é aquele que o Melo colocou no corredor do “Recobro”, por vaidade ou por fetiche sexual (coitar compassadamente parece-me … Fico pelo parecer), ecoa pelo edifício interminavelmente. Culparia Cronos, se não tivesse, antes, criado o tempo. O certo é que a relatividade do tempo não me daria tanta volta à cabeça, não fosse o Einstein mau a matemática no secundário e génio a física no culminar da vida. Ele, a sua “massa cinzenta” [1] e a sua teoria estão a dar cabo de mim. Chego ao ponto de afirmar, pittianamente, que, não tarda, tenho cappeli bianchi suficientes para me sentar à mesa a jogar à bisca com aquele que é o mais fugidio dos malditos.
As tarefas de rotina estavam todas feitas, registos de tensões arteriais e de toda uma gama de variáveis, ecocardiogramas, para serem dadas, no dia seguinte, de bandeja, ao estupor do Melo. O pior de tudo é ainda ter de ouvir, entre dentes, um “Pira-te daqui!”, após tanto trabalho e dedicação.
Mas, apesar de tudo, o Andrade, estava ali com todo o seu sentido de humor e boa disposição. (melhor dizendo, não estava, dormia). Não fora a gangrena que desenvolvera e era ainda um entre nós.
“Dorme Andrade, dorme…” Pudera, com a dose de Coraden que lhe administrei até eu dormia dias sem conta.
Sem nada para fazer, fui sentar-me ao meu refúgio e, pestanejando lentamente, deixei-me cair entre os ombros e invadir-me pelo sono.
“Triiim….triiim…. triiim”
De sobressalto, desatei a correr para atender a chamada. É impressionante, os telefones conseguem ser um martírio.
-“ HGMM, boa noite - dissera eu.
- Olá. Sou eu, a Bea. Faça o favor e diga ao Melo que vou a caminho!”
As tarefas de rotina estavam todas feitas, registos de tensões arteriais e de toda uma gama de variáveis, ecocardiogramas, para serem dadas, no dia seguinte, de bandeja, ao estupor do Melo. O pior de tudo é ainda ter de ouvir, entre dentes, um “Pira-te daqui!”, após tanto trabalho e dedicação.
Mas, apesar de tudo, o Andrade, estava ali com todo o seu sentido de humor e boa disposição. (melhor dizendo, não estava, dormia). Não fora a gangrena que desenvolvera e era ainda um entre nós.
“Dorme Andrade, dorme…” Pudera, com a dose de Coraden que lhe administrei até eu dormia dias sem conta.
Sem nada para fazer, fui sentar-me ao meu refúgio e, pestanejando lentamente, deixei-me cair entre os ombros e invadir-me pelo sono.
“Triiim….triiim…. triiim”
De sobressalto, desatei a correr para atender a chamada. É impressionante, os telefones conseguem ser um martírio.
-“ HGMM, boa noite - dissera eu.
- Olá. Sou eu, a Bea. Faça o favor e diga ao Melo que vou a caminho!”
Deu-se-me um nó na garganta.
A minha cumplicidade sair-me-ia cara…
“- Sou eu, a mulher do Melo!!!”
[1] é o que o Hercule Poirot chama à densa e entranhada rede de células neuronais. Não saberia isto senão andasse a ler as ficções policias de Agatha Christie, com o intuito de encontrar uma forma de desmascarar “aquele” que come todas, cá no hospital. Caros amigos, a verdade é pra ser dita, nua e crua!
Alter Ego
Et voilá! Qual Lobo Antunes numa nova e fugaz passagem pelo mundo virtual, este Alter Ego que teima em afirmar-se e a fazer esmorecer as pessoas que somos, teima em atacar.
ResponderEliminarCertamente Pullitzer terias por certo, Espinoza.
...é uma maneira de o fazer dar a cara! Pulitzer é teu Alter Ego, caso reveles a tua verdadeira identidade!
ResponderEliminarE desconfiando como desconfio de quem sejas, tenho fé que está proposta faça estremecer os principios que tendem a fazer de ti um oculto manifesto...
o assobiar do vento e o uivar dos lobos anteveêm o pior. Piores, muito piores, tempos virão. Deixem-se guiar pela Natureza e vivam em harmonia. Alter Ego, deixa que te diga, há 2 dias eras fantástico, hoje és uma ameaça!
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