sábado, 28 de março de 2009

Sabedoria do Mundo #1

Gashi miuchi,

Decidi viajar, como tinha já referido. Troquei o hábito preto de mestre, pelo meu velho hábito branco de aprendiz - "o leão só é leão quando tem humildade para perceber que pode ter medo de ratos"; A minha mente está limpa e pronta a assimilar as novas informações que a viagem trará.
Subi para o grande pássaro branco de metal, e voei.
Durante a viagem, muitas pessoas olharam para mim de forma indiscreta e repetida - "Será uma emboscada?". Os meus sentidos ficaram alerta. De facto, até demais. Numa ida à casa de banho, uma voz feminina proferiu algo e colocou uma mão repentinamente nas minhas costas. Infelizmente acabou vitima dos meus reflexos altamente treinados - rapidamente debaixo da manga esquerda retirei uma agulha senbon para ninjas que espetei no espaço intercostal entre as vértebras cervicais C5 e C6, fazendo-a perder de imediato a força nas pernas e nos braços - estava temporariamente quadridplégica. Arrastei-a até à casa de banho e sentei-a na latrina, convencido que estava a ser alvo de uma conspiração. Passados cerca de 3 minutos saí, deixando-a inconsciente. Pormenorizando, percebi que esta rapariga só queria saber do meu bem estar e questionara-me para saber se queria chá ou café; Relativamente aos restantes passageiros, não era de todo uma conspiração, mas um acto que os ocidentais exercitam frequentemente - o gozo! Aparentemente viam-me como a caricatura papal pelo hábito branco e pelas barbas compridas. Foi forçado a desculpar-me à senhora. Alertei-a de que a poria inconsciente e que daí a 2 minutos acordaria não se lembrado sequer de ter entrado naquele voo, graças ao golpe Casco do Veado, que é executado na base do cerebelo.
Sentado e mais descansado decidi exprimentar tecnologia ocidental e coloquei umas uvas ligadas por fios nos ouvidos. Davam música. Fui reflectindo nisto até ao meu destino.
Cheguei. O meu destino era a Holanda. Dizem que por lá existem muitos profetas alucinados pelas ruas. Profetas que falam de cães e gansos mutantes que os perseguem mas que ninguém vê. O cheiro daquele país é característico e envolve-nos. Esforcei-me para não cair nele.
Num café, ia saciando a fome enquanto reparava num jovem com os seus 13 anos a ler uma revista. Minutos depois, o café foi invadido pelo profeta lunático ideal. Depois de expulso pelo dono, resolvi segui-lo para o observar. Era activo, e tinha o cheiro característico de todos os outros. Fumava constantemente e falava e alto e de uma vida só, abandonado por uma mulher que aparentemente tinha umas medidas bem apelativas, mas que o trocara pelo professor de yoga. Estava desgostoso e amargurado, mas pusera-me a pensar. Como recompensa ofereci-lhe o pequeno almoço. Com uma máquina que pára as pessoas no tempo com um flash colectei a minha primeira foto quando ele se despedia.
No caminho para uma pequena pensão ia reflectindo no perder alguém. No meu caso, ainda só perdi amigos. A minha função na Grande Planície dos 5 elementos não pode passar pela reprodução e talvez por isso nunca tenha sentido a necessidade de ter alguém. Não obstante, anos de guerras já me tinham levado muitos amigos. Doenças também.
Pelo Portal que se Escreve entrei no mundo dos computadores e encontrei algo que reflecte no fundo a mistura das experiências deste homem e das minhas.



Gostei desta primeira viagem. A Holanda leva um carimbo de sabedoria.
"Se procuras sabedoria ouve os que sofrem não ouças os reis pois só os primeiros têm realmente a certeza do que estão a falar".

Sonkei ken Ichibun

Bachiatari Sensei

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