...afinal, o que é isto de ser médico? Como é o médico encarado pela sociedade e como deve agir em sociedade?
Com toda a sinceridade, nem sei como me atrevo a responder a questões como estas, quase existenciais (O Jorge Cluni há-de dizer que "questo è stato,passou-se de vez"). Porém, antes prefiro colocá-las e tentar, de algum modo, responder-lhes, tendo consciência de que a bagagem que tenho para o fazer é ínfima, do que nem sequer as pôr em causa! Já Sócrates, com uma louvável douta ignorância, dizia: "Só sei que nada sei"... Ainda assim, nunca deixava de se questionar!
Mesmo estando consciente do quão pouco sei acerca do assunto, atrevo-me a discordar do modo como o médico é encarado pela comunidade, sobretudo o cirurgião. Enquanto estudante do 3º ano de cirurgia, na Università degli Studi di Firenze, constato que o médico é visto como um deus. E, efectivamente, o culto pela "religião medicina", praticado pelos devotos pacientes, é interminável. O mais impressionante, como diz Gawande, é "o culto do carisma cirúrgico", literalmente (carisma= oferta dos deuses). Meus amigos, quanto muito um médico seria visto como um padre, pois ele não faz milagres, e mesmo assim tenho as minhas dúvidas.
A melhor forma de definir um médico é recorrer a uma analogia. Ora, vejam lá se concordam ou não comigo: o médico está para o artista, assim como o paciente está para a tela. Na verdade, o produto da interacção médico-paciente é uma autêntica obra de arte. E, apesar da infinidade de movimentos artísticos, a essência é mantida: o exercitar da criatividade e o expressar dos sentimentos.
Macacos me mordam, não são estas as "pinceladas" médicas?
Num outro mundo,
Galli Pitt
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