"[...] numa noite de outono, quando os ventos ficam estáticos no céu, Morella chamou-me para a sua cabeceira. Uma névoa fraca cobria a terra, um brilho quente emanava das águas e, entre as intensas folhas de Outono na floresta, um arco-íris nascera no céu.
-É o dia dos dias - disse-me quando me aproximei -,um dia entre todos para viver ou morrer. É um belo dia para os filhos da terra e da vida -ah! mais belo para as filhas do céu e da morte!
Beijei-lhe a testa, e ela continuou:
-Estou a morrer e, no entanto, viverei.
-Morella!
-Nunca mais existirão os dias em que poderíeis amar-me - mas aquela que rejeitastes em vida ides adorar na morte.
-Morella!
-Repito que estou a morrer. Mas dentro de mim está a promessa daquele afecto - ah, tão pequeno!- que sentistes antes por mim, Morella.[...] Mas os vossos dias serão de mágoa - de arrependimento, que é o mais duradouro dos sentimentos, assim como o cipreste é a mais resistente das árvores. Pois as horas da vossa felicidade acabaram; e a alegria não se colhe duas vezes numa vida, ao contrário das rosas de Pesto que desabrocham duas vezes por ano. Não brincareis mais ao tebano com o tempo, mas, ignorando o mirto e a vinha, carregareis convosco na terra o vosso sudário, como fazem os muçulmanos em Meca.
-Morella! - gritei - Morella! como sabeis tais coisas? - mas ela voltou o rosto na almofada e, um ligeiro tremor tomando os seus membros, assim morreu, e nunca mais ouvi a sua voz."
excerto do conto Morella, Histórias Extraordinárias, E. Allan Poe
Pitt
Obrigado, mas é cipestre ou cipreste?
ResponderEliminarCaro Eloides,
ResponderEliminarDe nada. Foi uma gralha do amigo Pitt. É, de facto, «cipreste».
Cumprimentos