Em muitos karaokes, em muitos pedidos de namoro ou casamento, em qualquer destes eventos, é raro faltar, no imaginário português, quem cante uma música de Rui Veloso, entoando as letras que pertencem quase todas (ou mesmo todas?) a Carlos Tê, letrista indissociável da carreira do músico. Também indissociável de cada recente Verão português está o imaginário de Bernardo Fachada, na sua promessa de dois discos por ano. Os seus discos de Verão resultam da recolha e nova integração da multiculturalidade musical portuguesa, nas suas várias vertentes intrinsecamente regionais, mas também, e ninguém o pode acusar de excesso de pudor, na vertente lusófona, com largas fronteiras. Neste Criôlo, a sua festa estival de 2012, e com um esquecimento da viola, há afro-pop, reggae, teclados anos 80 no limite do embaraço, percussões dançantes e o apelo ao movimento da coxa, da perna e do pé, enquanto os braços se enrolam no par. Contudo, o factor que une todas as dimensões musicais de B Fachada reside nas suas letras, ou melhor, nas histórias de cada canção. Perdoe-se o exagero, mas tal como um zarolho pretendeu cantar um povo, o povo de Portugal, parece que Bernardo Fachada decidiu, a exemplo de Afonso Henriques que primeiro se intitulou Rei dos Portugueses e não Rei de Portugal, escrever as pequenas histórias dos portugueses. E são essas pequenas «epopeias» que embelezam a carolice, a javardice e o chico-espertismo do povo. Drogas, prostituição, atrevimentos, confusões amorosas, apelos (quem quer fumar com B fachada?; enrolas tu, fumo eu primeiro) são os condimentos que surgem em força em Criôlo, mas há espaço para tudo, até para que o português se entretenha a dançar na espera de que o disco de Inverno nos remeta para o conforto da lareira.
Hermenegildo Espinoza
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