terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

bacoco (2) rococó (3)

Este rococó é também um exagero da realidade, uma realidade hiperbolicamente adornada, que não pode ser mais do que aquilo que é, e que, por isso, usa maquilhagem. É assim a ficção bacoco-rococó: embora abuse da maquilhagem, não utiliza qualquer tipo de barrete, e nisso ela é sincera. Não podemos, contudo, evitar felizes coincidências - estão por todo o lado - e quem lê a ficção e encontra nela uma verdade, talvez seja porque tem frio nas orelhas. Se esta ficção se presta a estas coincidências, nem é o seu mérito que devemos discutir, mas é a verdade que nela assoma aos olhos. Podemos julgar que a realidade está aí, como sempre tem estado, quer a consideremos contingente ou necessária. Porém, a verdade que nela há, por mais fraccionada que seja, principalmente quando surge sinergicamente a reboque da ficção, talvez seja a mais exacta. A verdade transforma-se, para melhor ou para pior; já a teimosia é mais difícil.
E não haverá espaço a patogénios num lugar tão dado à assepsia, não porque o lugar é limpo, mas devido à negação desses patogénios em entrar, por mais que o lugar conspurcado os convide. Afinal, ainda existem patogénios honrados, com respeito pelos enfermos.
Pensando bem, se vejo neste lugar a realidade de sempre, já a verdade que a habita está estiolada. Tenho as orelhas frias e a maquilhagem num desadequado arranjo: a barba farta, a bata vincada, a angina mais frequente. Esta mão que começa a tremer, a mão agora sem essência, é a mão que começa a fechar.




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