É certo que a evolução é parte da natureza das coisas. Hoje pequena, amanhã grande. Hoje verde, amanhã caduca. Mas a constância, excepto nas mulheres [1], também o é. Para se ser folha tem de se cumprir um mínimo de requisitos, como sejam ter clorofila, produzir oxigénio e por aí em diante. É esta a nossa essência enquanto folha.
O rococó, tal como a folha, tem a sua clorofila. Pauta-se pela simplicidade. Em matéria arquitectónica faz-se ouvir por janelas alongadas e arqueadas tectalmente. Porém, na sua essência, é dominado pela forma circular. Será rococónico o edifício cujas mais ou menos tantas janelas perdem o arqueado para dar lugar à forma rectangular? Ou aquele que tenha um ângulo recto, ainda que único, nas paredes do seu bloco central, quando manda a regra que sejam circulares?
É isto que o distingue e o caracteriza. Naturalmente, é óbvio que, quando o que interessa é iluminar mais, qualquer um pode moldar a janela à luz do seu interesse. Tirar-lhe o arqueado, por exemplo. Agora, desbaptizem-na! Não a chamem, jamais, de janela rococó.
O clube, tal como o rococó e a folha, têm a sua essência. Não vende produto e, muito menos, se vende por mais valias que o façam vender mais. Não se mede pela qualidade de publicações, pela assiduidade nas mesmas ou pela sua quantidade. O clube é, na sua essência (repito), ter um Jorge Cluni que fez no máximo duas publicações em toda a história da sua existência, é ter um Bachiatari com a sua linguagem bélica e sabedoria oriental, é ter um Ubirajara desencontrado, é ter um Adegesto , Pataca de nome, que vale mais do que dinheiro, e ter um Hermenegildo assíduo, na constante presença dos seus gatos, que nem com mão magoada abdica da partilha de uma sua qualidade: a escrita. Somos nós, os malditos.
O clube é os malditos! No que respeita ao seu carácter, tudo o que não é maldito é medicomalditococo, é patogénico. Se passa a ter janelas sem arqueamento, deixa de ser o que era. Perde aquilo que o caracterizava.
Pode ser equívoco meu, mas parece-me tudo menos ser bacoco, prezar pela qualidade última desta casa. No final de contas, este é o nosso rococó e a janela quer-se como dita a regra.
R: Na natureza, algumas coisas se perdem quando se transforma.
[1] “Inconstância, o teu nome é mulher.” Hamlet