terça-feira, 12 de outubro de 2010

Gira-discos #26

Carlos Paredes - Canto do Rio

O homem dos mil dedos apresenta-nos o curto, e não menos magnífico, canto do rio. Algo que o caudal de muitas horas de sono perdidas, mesmo atirando-nos para o fundo dos aluviões, não consegue deturpar. Até quando o rio se escoa por entre os nossos olhos estáticos de marinheiro sem astrolábio? O rio lamenta-se por baixo das pontes de pedra onde peixes, sem contemporâneos sermões, se afunilam na turvação dos átomos, aleatoriamente. E giram e giram, os grandes com os pequenos, e morrem e morrem (falo muito em morrer pois também eu vou pelo mesmo caminho, e é suposto contar a história do passageiro que vai) serpenteando (bonita palavra, muito bonita mesmo) as lápides erodidas da vulgaridade dos meninos dos verdes anos. Somente se pudessem - os peixes que cantam no rio - nadar nas lágrimas que nascem nos olhos do rapaz de coração inclinado. E aprender, nesse fundo azul de escarpa, a observar o movimento perpétuo da gente pequenina e grande mergulhando no fundo poço do mundo.



Hermenegildo Espinoza

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