terça-feira, 1 de dezembro de 2009

do espinoza #11

Se chegares encharcado a casa, o cabelo a pender pela testa e as rajadas de frio subindo em cortes transversais pelo teu corpo, como um arrepio axial humanizado (AAH), não conseguindo, contudo, estabelecer qualquer raciocínio lógico para aquilo que ele te implora, para o mal-estar que certamente te enclausura como bicho solitário, não desanimes muito, ou, se for o caso, se o desânimo acabar por te encobrir, não o leves demasiado a sério, não o tomes como dado adquirido e persistente. É tudo sol de pouca dura, ou, digamo-lo em pratos limpos, chuva de pouca dura.
O mais acertado a realizar, por muito refutável que seja (tão claro é que não dominamos variações, não somos produtos ambientais e genéticos estáticos) é prosseguir a vida, por mais que o corpo sofra (regozijem-se pela sua submissão à vontade). Concomitante com a ideia do que somos uma simbiose corpo-mente de refinada eficácia, convém avisar o corpo – tantas vezes déspota e tiranete das nossas vontades – que isto de convivência implica uma dose de democracia. Mesmo que o castigo contenha repercussões na própria mente – atestando a evidência da formosura simbiótica - deve-se incorrer nesta separação das águas. Em democracia é preciso saber perder. Que o corpo tenha noção que também a mente necessita de mimos.
Espera umas horas para enveredares pelo reconfortante banho. Não porque o corpo o pediu à exaustão, mas porque a mente assim o ordenou. Se ele, o corpo, ficar amuado, tanto melhor.




Hermenegildo Espinoza

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