sábado, 18 de julho de 2009

do espinoza #8

Dou comigo a pensar na beleza da vida. Normalmente vem-me à cabeça este pensamento quando me rendo ao prazer de estacar nos jardins da Cordoaria olhando os transeuntes que, placidamente, escorrem pela quotidiano citadino da cidade. A cidade está insuflada de turistas: espanhol, inglês, alemão, francês e outras línguas espalham-se pelo ar sôfrego. O Porto é o centro do mundo, do meu mundo.
As crianças caminham com os avós, os namorados dão as mãos, tudo se congemina na conspiração eleita das relações. Estamos sempre a chegar a um lado, sempre a partir para outro, mudamos em cada tic tac dos relógios e nenhum lugar é o nosso. Digamos que temos um débito de insatisfação concomitante com o desejo de refutar o nosso crescimento. O Michael Jackson, olhe-se para o seu exemplo, considerava-se Peter Pan de uma Terra do Nunca. A contradição que estraga qualquer concretização desta utopia é o facto, tantas vezes esquecido, de que a estabilização da nossa pessoa como criança concorre com o problema da criança jamais poder ser estável enquanto absorve as cores visíveis das várias realidades. Deixamos de ser garotos, isto é, perdemos a capacidade inata de sentir felicidade pura, daquela sem artifícios com que tendemos a iludir-nos, quando adquirimos estabilidade.
Será exequível um projecto de vida assim? Não sei, mas não custa tentar. Se o resultado for a queda, será mais uma no horizonte da evolução. O ser humano foi concebido para cair. Há quem diga que saímos das árvores na tentativa de conseguirmos voar. Não me espantaria se assim fosse. Existe um protótipo de Peter Pan em cada um de nós.



Hermenegildo Espinoza

Sem comentários:

Enviar um comentário